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CORPO E ALMA EM VERSO E PROSA

Em 2004, blogue era um instrumento relativamente novo e estávamos encantados com a possibilidade de criar e publicar textos – literários ou não – e promover uma festiva interação entre nós. Durante todo o ano, interagimos, brincamos e criamos uma infinidade de elos. Em 2005 surgiu a vontade de imortalizar aquela alegria. Decidimos fazer um livro impresso. Ainda não era fácil publicar um livro. Nem barato. Mas topamos a aventura. Passamos boa parte do ano nos acertos, na preparação. No inicinho de 2006, após uma longa e por vezes dolorosa gestação, nasceu Corpo e Alma em Verso e Prosa. Um livro de quase 90 blogueiros. Um livro que guarda nossas letras ad eterno. Um livro que nos proporciona sentir a textura, o cheiro e as cores da nossa aventura. Cinco anos já se passaram. Alguns não estão mais conosco, mas muitos ainda sentem saudades daquele tempo. Por isso, alguns de nós resolvemos recriar a emoção. É tempo de um novo livro. E resolvemos ampliar, como em 2005, a nossa aventura. Então o convite é: vamos juntos em nova aventura? O convite é para vocês que participaram do primeiro, vocês que estão chegando agora, vocês que têm blogues, vocês que não têm blogues, vocês que nos lêem em silêncio e para os amigos de todos vocês. Levem o link, espalhem esta idéia.

ESTÁ ABERTA A SELETIVA DE TEXTOS PARA


O livro II da Coletânea de contos, crônicas e poemas de autores blogueiros Corpo e Alma em Verso e Prosa

Informações gerais: Tema: Livre. O(s) texto(s) pode(m) ser em prosa e/ou verso. Nº de participantes: mínimo de 30 (trinta) – máximo de 45 (cinqüenta) Custo do Investimento: Cada autor terá a obrigatoriedade de adquirir 01 (um) exemplar ao custo de R$ 30,00. O pagamento é antecipado e deverá ser feito conforme informações que enviaremos após o processo de seleção. Prazo para adesão: até 20 de abril de 2011 ou até completar os 45 participantes Páginas por participante: 04 (quatro) Importante: Para calcular o tamanho da página, use Times New Roman nº 12, formatação Normal e conte 22 linhas, a partir do título. Caso encontre alguma dificuldade, mande-nos como estiver. Faremos a paginação e, se necessário, entraremos em contato para os devidos ajustes. Responsáveis pela organização, revisão, diagramação e editoração: Loba, Jens e Cherry (colocar link dos blogs em cada um dos nomes) Especificações da edição: - Formato padrão de 14,0x21,0 cm - Miolo em papel branco 75g com impressão em preto - Capa personalizada e exclusiva, com impressão em papel 220g - em policromia (a cores) e plastificação - Acabamento com lombada e orelhas - Registro do ISBN - Código de barras - mínimo de 132 páginas – máximo de 200 (dependendo do número de participantes)

Importante:

No primeiro contato, através preferencialmente do FORMULÁRIO DE CONTATO PARA COLETÂNEA, logo abaixo desta postagem, ou pelo e-mail editoriacoletanea@gmail.com, os interessados deverão enviar seus textos – NO CORPO DA MENSAGEM, juntamente com as seguintes informações: Nome completo Nome que usará na publicação No prazo máximo de duas semanas após o encerramento das inscrições, os autores dos textos selecionados receberão nosso retorno com as demais informações. IMPORTANTE: NÃO SERÃO ACEITOS TEXTOS ENVIADOS COMO ANEXO. TODOS DEVERÃO SER COLADOS NO CORPO DA MENSAGEM E DEVERÃO TER TÍTULO. Não se preocupe com o tamanho do texto. Não há limites de caracteres no corpo da mensagem de e-mail.




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Euza: Tempo de seguir novas canções


Tudo me era estranho. Até o gato, espreguiçando no banco e olhando o desfile da vida, não me parecia gato. Queria mesmo era tomar um copo de cólera. Seria uma reação. Há tempos ando assim, como a deixar a vida passar por mim.
Naquele momento, não foi a vida quem passou. Foi um homem. Gordo e surpreendentemente ágil. Passou correndo e seu vento me deslocou. Tropecei nas pernas e nos pensamentos. O momento passou e tudo voltou ao que era antes. Eu, parada. Solidária às pedras. Solitária na falta de inspiração. É preciso inspiração pra seguir a canção. Talvez seja preciso o deslocamento do vento para nos dar a direção. Olhando os rostos mais ou menos conhecidos fui em busca do porto. O ponto.
É prazeroso estabelecer o ponto de partida, é sábio olhar de frente o ponto final. Quase sempre estendemos o momento de escrever o The End. Nos agarramos ao que sonhamos, ao que projetamos. E arrastamos as vírgulas, enfeitamos as reticências. Tudo para fechar as cortinas como nos contos de fadas. Mas nem todo final precisa ser feliz ou parecer feliz. Às vezes ele deve ser assim: lento e silencioso e sem importância. Às vezes ele apenas marca o fim de um tempo. E pendura as lembranças por cores, tamanhos, emoções. Lembranças que, em sépia, se tornarão preciosas e perfeitas e amadas. Palimpnóia (este nome esquisito) será esta bela lembrança.
A volta pra casa foi rápida. Nem foi preciso o copo de cólera - a gente reage quando menos espera. E toma o curso da vida. E apesar de ensaia os sorrisos. E lembra Clarice Lispector: “muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.” É tempo de seguir novas canções.
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Aline Belle: Só um aperto de mãos

Nos últimos dias ouvia encantada a voz grave dele, já nem processava mais a enxurrada de informações que ela transmitia. Ficava perdida nos diferentes timbres, que não me dei ao luxo de interpretar. Vez por outra me dava conta que havia pagado (e nada barato) pelo curso.
Desequilibrada, já ria das piadas machistas que soltava, mas proferidas por aquele homem, como poderia rebater? Ria também das indignações dele diante das atrocidades do sistema judiciário. Nunca olhava para onde o seu dedo apontava. Olhava apenas para o dedo torto. Passei boa parte do curso desejando ardentemente que ele, do alto do palco, simplesmente caísse bem no meu colo. Algo impossível de acontecer, já que normalmente me sentava na terceira fileira. E desejo tem lógica? Então me embasei nisso e prossegui desejando, afinal desejos são só desejos. Só?
Ontem, último dia. Ao encerrar o curso, todos bateram palmas para o renomado "professor-doutor". Eu não. E foi aí que ele me percebeu. E pousou seus olhos sobre mim.
Fui para fila a fim de cumprimentá-lo pela eficiência da oratória. Estendi-lhe o braço e a mão lisa, bem cuidada e cheia de dedos tortos segurou a minha mão.
Esse aperto não teve vibração cordial. Demorou mais que o convencional. Ele não queria soltar. Estava pávido. Os olhos estarrecidos. Não sei se por compartilhar da mesma sensação que eu ou se por medo de não saber disfarçar o papelzinho que lhe entreguei ardilosamente.
Serena, como sempre sou, soltei a mão dele que se comprimiu para o tal papel não escapar e desesperadamente entrou no bolso do terno Armani. Girei-me nos calcanhares e comecei subir a rampa. Confesso que rebolando mais que o necessário.
Senti os olhos dele nas minhas costas nuas, cravados como os espinhos da minha tatuagem. Agora ele estava perdido nos meus delírios, que permanecerão apenas no âmbito dos delírios...
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Zeca: Trivialmente

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Celebração


Junho chegou! Como sempre, com um arzinho de inverno, do romantismo (ou mercantilismo) do Dia dos Namorados, e o cheirinho de Festas Juninas com suas fogueiras, quentão, quadrilhas (quadrilhas?).

Mas uma vez a cada quatro anos, tudo isso muda, pois apaixonados - a maioria de nós - por futebol, nos preparamos para acompanhar os jogos da Copa do Mundo e seus modismos, com muitos enfeites em verde e amarelo pelas ruas, pelas roupas e, neste ano, com o barulho ensurdecedor das vuvuzelas.

Eu, claro, não fujo à regra. Não sou torcedor de nenhum time, embora nutra mais simpatia por uns e menos por outros. Costumo assistir alguns jogos durante o ano, principalmente os mais importantes e não perco os jogos da Seleção Brasileira. Mas de quatro em quatro anos, chego à beira do fanatismo! Não perco os noticiários esportivos, assisto jogos e treinos, acompanho o dia a dia dos atletas e, aí, me misturo à maioria dos torcedores brasileiros.

Este ano não foi diferente; desde maio estou me preparando para a Copa, fazendo uma agenda das atividades da Seleção, anotando as datas dos jogos para não assumir compromissos e vigiando os canais de televisão, para não perder nenhum programa esportivo, nenhuma informação sem a qual eu me sentiria o último dos brasileiros.

Mas aconteceu uma coisa que mexeu demais comigo, mais ainda que os jogos propriamente ditos: foi o Show de Abertura da Copa do Mundo! Para mim, um divisor de águas dentro do futebol. Aconteceu no dia 10 de junho, portanto, um dia antes da abertura oficial do Campeonato Mundial. Foi como um presente dos organizadores africanos para todo o mundo! Antes do início do show, grupos tribais mostraram ao mundo um pouco da cultura local e artistas de ponta dos países africanos dividiram o palco com artistas de renome mundial, em pé de igualdade, animando e emocionando a maioria das pessoas da platéia e aqueles que, como eu, acompanharam tudo pela TV.

Mas quando Desmond Tutu (Prêmio Nobel da Paz de 1984), arcebispo de Johannesburgo entrou no palco vestido com as cores do país e foi ovacionado pela população, intercalando um rápido e emocionado discurso com passos de dança e muita alegria, a emoção tomou conta de mim como há muito tempo não acontecia. Chorei copiosamente.

Como era de se esperar, o arcebispo prestou uma homenagem ao grande herói sul africano, Nelson Mandela. - Viva Madiba! - disse, referindo-se ao apelido do líder africano, que não esteve presente na abertura por questões médicas. O grito de agradecimento orquestrado por Desmond Tutu foi uma demonstração do reconhecimento do povo sul-africano à trajetória de Mandela, que passou a maior parte de sua vida lutando contra o apartheid, um regime de segregação racial que imperou na África do Sul durante praticamente todo o século XX. Por essa luta esteve preso durante 25 anos (e o bispo Tutu, calado pelas autoridades) e entre 1994 e 1999 governou o país, após sua saída do apartheid preparando o povo para a democracia.

O país ainda tem muitos problemas políticos, sociais e econômicos. Tem muita pobreza e desigualdade, mas um povo extremamente orgulhoso de sua liberdade. Um povo alegre e aberto a todos os povos, com quem celebra a vida livre dentro de um novo mundo. E mostrou ao mundo sua capacidade de oferecer uma festa tão bem organizada quanto qualquer outro país. E mostrou a todos algo raramente mostrado nesses eventos: a alegria e o orgulho em, finalmente, aparecer perante o mundo como a sede de um evento grandioso. E mostrar ao mundo que têm esperança suficiente para seguirem sua difícil caminhada rumo ao progresso, com dignidade. E por isso, celebram!

E eu? Feliz e emocionado me preparei para, no dia seguinte, seguir a abertura oficial da Copa do Mundo da África e, dali para frente, acompanhar a maioria dos jogos e dos programas esportivos da TV. Só que, diferente das Copas anteriores, desta vez com um sentimento de carinho por esse povo que, muitos de nós mal conhecíamos.

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Euza: De vida e jabuticabas


As gotas caíam lentas e escorriam queimando em meus caminhos venosos. Lá fora o dia chovia como a chorar pelas dores de todos nós. A imobilidade forçada só me permitia pensar. E sentir um persistente incômodo. Uma quase dor. Nada físico. Era como se estivesse olhando as jabuticabas do menino de Mário de Andrade e descobrindo que sobravam poucas à minha frente.
Fiquei pensando nas minhas jabuticabas. Não sentia nem sinto pela quantidade do que me resta. Sinto pela qualidade do que se foi. Eu que passei a vida sem arrependimentos, agora os tenho. A maior parte das minhas jabuticabas não foi degustada. Engoli-a com a pressa dos gulosos, com a inconsciência dos doidivanas. Agora é hora de cuidar do que ainda me resta.
Quantas jabuticabas ainda me restam? Não sei. Nunca alguém saberá quanto tempo de vida ainda lhe resta. Então fazer o quê com este tempo que nos parece sempre curto?
Ainda como Mário de Andrade, minhas decisões estão chegando. Não sei escrevê-las, mas talvez eu saiba vivê-las. Lentamente, como convém a quem já se descobriu mortal. Insistentemente, como garimpeiro em busca de seu ouro. Alegremente, como criança pulando amarelinha.
Quero a essência das flores e das pessoas. Nada mais de superfície. Quero rir de mim mesma e andar com quem sabe ser beija-flor. Quero ser a alegria do barco voltando e o conforto no imprescindível adeus. Não tenho mais tempo para o superficial, para o medíocre, para o sem-sentido. Meu tempo agora são grãos preciosos de uma areia que, lenta, chegará ao fim.
E fica a inevitável certeza: a ampulheta nunca será virada. Nem a minha, nem a de ninguém. Portanto, que a vida seja sempre o essencial. E essencial é mesmo o amor – em todos os seus tempos, suas formas, seus sentimentos.
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Jens: Pequenos canalhas




A estupidez da humanidade nunca deixa de me surpreender. Minha mais nova fonte de estarrecimento é o tal de bullying, a denominação chique para a velha e antiga provocação praticada por adolescentes nas escolas, atualmente resolvida na bala.
No meu tempo não era assim. A pegação de pé, como hoje, era através de apelidos depreciativos. No Ginásio Padre Réus alguns apodos entraram para a história da instituição, como, por exemplo, Cadela, Gão e Solange. O primeiro se chamava Júlio, mas tinha uma cara e um olhar carente de cadela abandonada. O segundo pertencia à turma mais velha – estava no Científico – e era um bom jogador de basquete (os caras do Científico não jogavam futebol de salão, esporte preferido pela plebe infantil – nós, os ginasianos). O problema com o Gão era quando um gaiato, prudentemente oculto, berrava “Vem cá, Gão”. O cara ficava uma fera. Identificado o engraçadinho, a briga era certa. Seu nome de batismo perdeu-se nos escaninhos da História. Já Solange era o codinome do Artur, meu colega de turma. Ele tinha cabelo crespo e ruivo (depois foi apelidado de Bombril), que lembrava a galinha de estimação do Carlos Bronco Dinossauro- a Solange, naturalmente –, personagem interpretado por Ronald Golias, no programa A Família Trapo, um sucesso de audiência da TV Record nos anos 60.
Ontem, como hoje, as alcunhas não eram aceitas pacificamente. Naquela época, a honra era restabelecida com socos e pontapés, na pracinha em frente ao colégio, depois da aula (“pedrada não vale”). O interessante é que não havia revanche. O perdedor aceitava o resultado e a vida seguia em frente – não sem antes os contendores levarem uma tunda dos genitores. Naquele tempo, os pais acreditavam ser sua obrigação impor regras de comportamento aos filhos, e uma delas é que não deviam brigar no colégio, não importa o motivo. A gente sabia: brigou na rua, apanhou em casa. Simples assim – “endurecer sem jamais perder a ternura”, a receita de civilização preconizada pelo doutor Benjamin Spock bem antes de Che Guevara.
Pessoalmente, não tive maiores problemas nesta área. Nos anos de delinquência fui chamado de Mister, Kopachevisky (o Kopa) e Bolo Fofo.Os dois primeiros foram em razão do meu segundo nome (Edi) acoplados a séries de tevê. Mister, fazia referência a Mister Ed um cavalo falante. Kopachevisky por causa do soldado Ed Kopachevisky, personagem de um eposódio da série Combate . Bolo Fofo foi quando eu era lindinho e gorduchinho (graças às doses industriais de Biotônico Fontoura e Toddy, ministradas pela mãe). Só quem me chamava assim era a sorridente e carinhosa Naira. E a Nairinha, meu primeiro amor, podia tudo. Assim, sem estresse.
Outros camaradas não foram tão felizes, como o Coveiro (alemão, magro, alto e cadavérico – um excelente goleiro de futsal – o fdp defendeu um dos meus melhores chutes), o Dezudo (um nerd que só tirava 10, tentamos fazer sexo com ele durante todo o Ginásio; aparentemente, ninguém conseguiu), o Touro Louco (protagonista da maior briga que já presenciei – um dia (re)conto como foi), e o Pãozinho (no tempo em que os guris bonitos eram chamados de Pão – vão no Google, jovens).
Pra não dizer que não falei das mulheres, registro a Maria Olho de Boi (Maria Catarina, na verdade. Coxodulzíssima, também) e a Maria do Lordo (uma magrela provocante que ostentava um traseiro encantador. A propósito, “lordo” é uma palavra que não se encontra nos dicionários, mas, suponho, vocês sabem do que se trata).
Eram assim, aqueles tempos: bobagens, bobagens e bobagens. Éramos também, cruéis, certamente. Mas, no final, todo mundo se salvava. Armas, jamais.
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Aline Belle: Dia dos Namorados

Depois de um dia cansativo, pra variar, a semana se findava. Estava exausta, de tudo um pouco. Poderia dormir. Dormir muito era tudo o que queria. Nem os sonhos, aqueles que já não tinha fazia tempo, atrapalhariam sua morbidez, caso aparecessem. Na verdade, queria não ver o dia seguinte, não queria ter notícias dele, do Dia dos namorados.
Encaixou a chave no portão, ao trancá-lo, sabia que seus maiores tormentos começariam. Recolheu as cartas, os panfletos (promessas - mentirosas - de uma vida mais fácil e feliz). Abriu a porta, acendeu a luz, colocou a bolsa no sofá, livrou-se dos sapatos a caminho da cozinha, tirou uma pequena embalagem da geladeira, abriu e o colocou no micro-ondas. Tudo sempre igual.
Enquanto a comida descongelava, encostada no mármore frio da pia, deu uma olhada na correspondência. Incrível como uma mulher solteira recebe informativos, catálogos de roupas e de viagens, propostas de adesão a cartões de crédito!
Um panfleto pequeno, porém em letras garrafais, chamou-lhe atenção: Operação Cata Bagulho.
Dizia nele que qualquer coisa que não servisse (móveis, papéis, roupas) poderia ser colocada na calçada de sua casa para ser recolhida pelo caminhão da Prefeitura para ser levada a lixões, doadas, recicladas...
Pensou nas pilhas alcalinas já sem finalidade que guardava, mas lembrou-se que as doava para uma velha senhora que fazia dinheiro com elas e (também) assim sustentava a família numerosa.
Os livros! Não, ainda não estava na época de fazer a limpeza na estante. E depois, poderia doá-los para a escola pública como fizera com as revistas.
O mais não lhe servia?
O que mais poderia doar?
E lembrou-se daquilo. Fazia anos que o guardava, na vã esperança de um dia ser bem utilizado. Estava lá, jogado em algum lugar que ela fingia não saber bem qual era. Já tinha lavado-o, já tinha pintado-o de todas as cores possíveis e de nada adiantava, não conseguia restaurá-lo.Talvez uma lixa bem possante tirasse a ferrugem, esfarelasse as corrosões? Mas andava com preguiça, tão desanimada, isso daria muito trabalho e ela estava sem estímulo para começar a reformá-lo novamente. Tantas e tantas vezes havia tentado... Estava decidido: seria doado! Quem sabe a caridade pudesse ser um bom modo de aproveitar aquilo, já que para fazê-la ainda sentia algum ânimo.

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Na manhã seguinte, os homens da Prefeitura tiveram certa dificuldade e precisaram de muita força para carregar seu pesado coração, que de alguma forma, movido por um sentimento de solidariedade, batia fraco...
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A Prefeitura de São Paulo tem uma ação chamada "Cata Bagulho" (acharam que era gozação, né?), onde, através de panfletos informa o dia e os horários em que os caminhões passarão recolhendo tudo que os moradores não querem mais, destinando-os para a reciclagem, doações ou lixões da Capital. Acho que vale a pena ficar de olho, se informar sobre dias e horários e contribuir...
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