Aline Belle: Só um aperto de mãos

Desequilibrada, já ria das piadas machistas que soltava, mas proferidas por aquele homem, como poderia rebater? Ria também das indignações dele diante das atrocidades do sistema judiciário. Nunca olhava para onde o seu dedo apontava. Olhava apenas para o dedo torto. Passei boa parte do curso desejando ardentemente que ele, do alto do palco, simplesmente caísse bem no meu colo. Algo impossível de acontecer, já que normalmente me sentava na terceira fileira. E desejo tem lógica? Então me embasei nisso e prossegui desejando, afinal desejos são só desejos. Só?
Ontem, último dia. Ao encerrar o curso, todos bateram palmas para o renomado "professor-doutor". Eu não. E foi aí que ele me percebeu. E pousou seus olhos sobre mim.
Fui para fila a fim de cumprimentá-lo pela eficiência da oratória. Estendi-lhe o braço e a mão lisa, bem cuidada e cheia de dedos tortos segurou a minha mão.
Esse aperto não teve vibração cordial. Demorou mais que o convencional. Ele não queria soltar. Estava pávido. Os olhos estarrecidos. Não sei se por compartilhar da mesma sensação que eu ou se por medo de não saber disfarçar o papelzinho que lhe entreguei ardilosamente.
Serena, como sempre sou, soltei a mão dele que se comprimiu para o tal papel não escapar e desesperadamente entrou no bolso do terno Armani. Girei-me nos calcanhares e comecei subir a rampa. Confesso que rebolando mais que o necessário.
Senti os olhos dele nas minhas costas nuas, cravados como os espinhos da minha tatuagem. Agora ele estava perdido nos meus delírios, que permanecerão apenas no âmbito dos delírios...
Ontem, último dia. Ao encerrar o curso, todos bateram palmas para o renomado "professor-doutor". Eu não. E foi aí que ele me percebeu. E pousou seus olhos sobre mim.
Fui para fila a fim de cumprimentá-lo pela eficiência da oratória. Estendi-lhe o braço e a mão lisa, bem cuidada e cheia de dedos tortos segurou a minha mão.
Esse aperto não teve vibração cordial. Demorou mais que o convencional. Ele não queria soltar. Estava pávido. Os olhos estarrecidos. Não sei se por compartilhar da mesma sensação que eu ou se por medo de não saber disfarçar o papelzinho que lhe entreguei ardilosamente.
Serena, como sempre sou, soltei a mão dele que se comprimiu para o tal papel não escapar e desesperadamente entrou no bolso do terno Armani. Girei-me nos calcanhares e comecei subir a rampa. Confesso que rebolando mais que o necessário.
Senti os olhos dele nas minhas costas nuas, cravados como os espinhos da minha tatuagem. Agora ele estava perdido nos meus delírios, que permanecerão apenas no âmbito dos delírios...
8 comentários:
Não consegui parar de ler o texto pois coloquei-me no lugar da narradora!
19/7/10 01:41Muito bom, me fez sorrir!
Te adoro amiga.
Beijos
Conta mais!
19/7/10 21:26Conta, vai!!!
Agora fiquei curioso pra saber o que tinha no bilhetinho!!!
E a minha imaginação tá me dando um baile; será o telefone? um local pra um encontro? uma frase romântica? ou uma descompostura pelo dedo torto?
Beijão.
ALINE, DA MESMA FORMA QUE O REFRÃO DE UM SAMBA ANTIGO EU PERGUNTO:
20/7/10 15:29E DAÍ, E DAÍ?
NInguém - NIN-GUÉM!!!! - nesse mundo poderia contar uma paquera descarada como essa com tanta classe e maravilhosos detalhes. Pena que os tais detalhes não foram tão sórdidos como eu gostaria, mas que foi bom, ah isso FOI!! :-D Manazinha de minhalma, me ensina? rs. Bjão, bom finde!
23/7/10 12:27Olá Aline!!!
26/7/10 22:58Obrigado pela visita e pelo elogio ao texto, é bom receber elogios, melhor ainda quando partem de escritores!!! Seu texto é surpreendente pelo suspense e pelas sensações que nos causam...um instante que nos prende por horas...Parebéns!!!
Li na semana passada e me senti tão saudosista que não comentei. Reli hoje e continuo a mesma. Advinha de quem as saudades?
30/7/10 12:06Lembra da Amanda? Putz! Que vontade de voltar àqueles velhos tempos, viu? Tempo de contar estas histórias deliciosas; tempo de ousadias literárias... enfim, tudo que vc ainda tem e vive, né? rs...
Beijo! Muitos.
Seria uma relação com o poder do professor?
20/8/10 11:18Sei lá - não sei mais paquerar não , daí me custa compreender.
Mas gostei do estilo da coisa.
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