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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Shi's a Lady

Saudade, saudade... saudade!
Os momentos de saudade são aqueles, quando retomamos na memória algo que já não temos mais, coisas que vivemos no passado, alguém que não mais está presente. Enfim, o passado nos traz saudades.
É claro que não podemos, ou melhor, não devemos ficar presos ao passado, ao que era ontem. Ontem é ontem, passou. O tempo passa e a gente de repente se vê preso neste emaranhado confuso de sentires, pensares e achares e de repente a prisão também está neste momento, precisamente agora. Basta surgir algo inusitado, que não estava previsto e que talvez seja apenas mais um reflexo do que um dia foi desejado e que (o tempo, melhor dos remédios pra qualquer mal) passou. Mas eu fico pensando na maravilha que seria se conseguíssemos manter, em nosso presente, a magia, o agradável, o belo e o possível de cada momento vivido.
Perguntando ao Aurélio, Houaiss ou Michaelis, todos vão dizer mais ou menos assim, sobre a saudade: “Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia”. Está certo, claro, mas é possível, sim, ampliar esta definição para um sentido mais positivo, porque saudade não tem que ter sempre este tom nostálgico e triste, sinônimo de sofrimento e dor. Também dá para ver (e sentir) saudade como aquela sensaçãozinha gostosa de gratidão, de plenitude, a saudade de algo que um dia nos fez bem e feliz.
Começou a lembrar da infância? Ótimo: lembre-se dos momentos divertidos e das brincadeiras. Lembrou daquela amizade que se perdeu? Bom também: lembre-se das risadas, do tempo perdido falando bobagem, da cumplicidade. E aquele comichãozinho de tristeza ao lembrar do amor que ficou só no sonho? Delícia: lembre-se da sua dedicação, do carinho, da vontade de ver o outro sempre bem. Não dá? Dá, sim.
É nessa hora, quando a saudade bate, que colocamos à prova nossa capacidade de superação. Não dá pra viver ou reviver o passado, mas dá perfeitamente para transformá-lo em uma parte gostosa do presente. Receitinha básica, fruto de experiência própria: quando começar a surgir a saudade, passe a pensar exaustivamente no que está te entristecendo, esgote todas as possibilidades, lembre tudo do começo ao fim. Sofra tudo o que tiver que sofrer por, aproximadamente, 1 hora. É o máximo que você deve se permitir sofrer pelo que passou. O dia tem 24 horas, então perca esse tempo (ocasionalmente) fazendo este exercício meio masoquista, vai ser bom. Passado esse período, volte pro presente. Aposto que isso vai começar a se repetir cada vez menos. E você vai sofrer cada vez menos também – e com hora marcada, como um compromisso, o que sempre dá margem à desobediência, outro exercício bastante gostoso de praticar.
Acho que Deus, quando criou a memória, não pensou que o homem fosse fazer tão mau uso dela. De repente ele quis dar uma oportunidade de a gente ter de volta algo que não temos mais, pelo motivo que for. Mas, segundo fontes fidedignas, não era para ter dor nisso, não. Era para a gente tentar ser feliz, mesmo.

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