Entrevista
Moacy Cirne, um sertanejo porreta
É difícil falar do professor Moacy Cirne sem recorrer ao elogio entusiasmado. A tentação é grande, pois afinal ele é um intelectual reconhecido, que construiu uma sólida carreira no mundo das idéias, ministrando aulas na Universidade Federal Fluminense e publicando, desde os anos 60, cerca de duas dúzias de obras não apenas sobre comunicação social (especialmente, mas não só, no âmbito da análise das histórias em quadrinhos) mas ingressando também no universo da poesia. Aliás, a poesia é uma das grandes paixões do professor, que em 1967 o levou a criar, com companheiros de Natal e do Rio de Janeiro, o poema/processo, um movimento de vanguarda (anti)literária recheado de poemas semiótico-gráfico-visuais, além dos projetos semântico-verbais.
Sempre inquieto, na época da universidade (hoje está aposentado) Moacy Cirne criou um fanzine independente de uma página batizado de Balaio Porreta. Costumava organizar comemorações chamadas "Balaiadas" com distribuição de brindes como livros de arte e poesia entre os alunos do curso de Comunicação Social da UFF, para divulgar as edições especiais do Balaio. Desde 2007 o fanzine, que une textos provocativos, listagens de filmes, pensamentos e poesias, se transferiu para a internet sob a forma de um blog, o Balaio Porreta, que se caracteriza por ser um espaço generoso à participação de poetas e escritores da blogosfera.
O poema/processo nasceu a partir do concretismo, mas percebe-se nele uma grande manipulação da linguagem não-verbal. Quando surgiu o poema/processo e como você pode defini-lo?
Na verdade, o poema/processo surgiu como desdobramento formal de uma das vertentes criativas da poesia concreta, a do carioca-matogrossense Wlademir Dias Pino. Sim, porque três eram as suas vertentes: a de Augusto e Haroldo de Campos, e Décio Pigntari; a de Ferreira Gullar; e a de WDP, que apostava numa poesia mais gráfica e mais visual. Foi a que mais nos interessou. De resto, o poema/processo surgiu em dezembro de 1967, simultaneamente no Rio e em Natal. Há várias maneiras de defini-lo: possibilitar, por exemplo, a partir de uma dada matriz (gráfica) ou de um dado projeto (conteudístico), a criação de novos poemas – que chamávamos de “versões”. O poema, em si, jamais seria uma “obra acabada”: poderia ser enriquecido através de seu desdobramento ou de novos poemas, seja por seu autor, seja por outros poetas e/ou leitores eventuais.
Como aconteceu a sua participação neste movimento artístico?
Em 1966, morava em Natal – uma cidade, então, com pouco mais de 200 mil habitantes – e me sentia sufocado: a ditadura a todos acossava política e culturalmente. E eu era uma pessoa bastante inquieta. Tudo o que me parecia novo me interessava. Assim como me interessava a possibilidade de lutar de forma mais concreta contra a ditadura, sem entrar propriamente nos meandros da luta armada. A minha “praia” sempre foi o combate no campo das ideias. Conheci o Rio, então, e numa de suas livrarias adquiri vasto material dedicado à poesia concreta. De volta a Natal, reuni o pessoal amigo que fazia literatura entre nós e estudamos tudo aquilo com bastante afinco. Ao mesmo tempo, planejei me mudar para o Rio, definitivamente. Coisa que o fiz em março de 1967, já com o pensamento voltado para a experimentação em arte e literatura. Não saí de Natal pensando em conhecer Carlos Drummond, por exemplo. Que considerava e ainda considero um dos maiores poetas do país (embora prefira outros, como Murilo Mendes e João Cabral): saí de Natal pensando em estabelecer contato com Wlademir. A partir desse contato, final de março/começos de abril, conheci Álvaro e Neide de Sá, e fiz a ligação epistolar-documental entre o Rio e o Rio Grande do Norte.
"(Poesia) pode ser tanta coisa ao mesmo tempo: o sorriso de nossas filhas, de nossos filhos. Um filme de Jacques Tati. O olhar da pessoa amada. Uma cantata de Bach. Um gol de nosso clube de futebol – e a manifestação explosiva da torcida... "
O que é poesia para você?
“Poesia é a descoberta das coisas que nunca vi” (Oswald de Andrade). E pode ser tanta coisa, ao mesmo tempo, do abstrato ao concreto, e vice-versa. Um poema de Murilo Mendes. O sorriso de nossas filhas, de nossos filhos. Um filme de Tati, Jacques Tati. O olhar da pessoa amada. Uma cantata de Bach. Um gol de nosso clube de futebol – e a manifestação explosiva da torcida. Um quadrinho erótico de Manara. Um crepúsculo, uma aurora. Um poema de Zila Mamede – autora potiguar que nasceu na Paraíba. A sangria de um açude. Um quadro de Van Gogh. E assim por diante...
Há quanto tempo estás na blogosfera?
O Balaio, em sua forma impressa, quase artesanal, começou em 8/9/1986, quando era literalmente panfletado nos corredores e espaços abertos do Departamento de Comunicação da Universidade Federal Fluminense, e em bares da vizinhança, em Niterói. Em 29/10/2003 virou blogue com o nome de Balaio Vermelho. Em 28/1/2007, já com outro provedor, virou Balaio Porreta, em homenagem aos velhos tempos da Comunicação, quando era conhecido como “Balaio Incomum – uma folha porreta”. Mas, para mim, a grande data inaugural continua sendo 8/9/1986. Confesso que era muito divertido fazer e distribuir de mão em mão o velho Balaio, além de promover as “balaiadas” (cachaçadas, com direito a brindes) entre alunos, professores e funcionários do “Casarão” da Rua Lara Vilela, em Niterói. “Casarão” era o lugar onde funcionavam Cinema, Jornalismo, Publicidade e Arte, da UFF, bem entendido…
O Balaio Porreta surgiu como um fanzine impresso. Como foi a sua migração e adaptação para o universo virtual?
A migração/adaptação deu-se a partir de minha aposentadoria (em maio de 2003). É verdade que houve, antes, e não relatada em pergunta anterior, uma fase semivirtual. Como assim? Em 2002, deixei de lado uma velha máquina de escrever – a bichinha até que tinha alguns recursos modernos para a época – e passei a usar um computador. Quando entrei na internet, enviava o Balaio via emeio para uma porrada de gente. Lembro-me de uma blogueira, famosa na época, cujo nome me esqueci (mas o seu blogue realmente era interessante), que respondeu me espinafrando, acusando-me de fazer spam e outras bobagens. Ora, eu nada vendia através do Balaio, sequer os meus livros!
"(Tenho) um velho hábito: dividir afetivamente com as pessoas a arte e a literatura que me atingem. É uma maneira de fugir da solidão, na medida de minhas impossibilidades. "
O Balaio se caracteriza por ser um blog generoso, que publica principalmente textos de outros autores. Como é a garimpagem e como os escolhidos reagem à publicação de suas criações?
O Balaio sempre foi assim, já na sua primeira fase. Talvez seja o resultado de um velho hábito: dividir afetivamente com as pessoas a arte e a literatura que me atingem. É uma maneira de fugir da solidão, na medida de minhas/nossas impossibilidades. Já a garimpagem dos poemas e textos é um pouco aleatória; gostei, separei. Mais cedo ou mais tarde é editado. E de modo geral, as pessoas reagem bem à publicação; às vezes peço autorização; às vezes, não. Em alguns casos, sequer ficam sabendo. O mesmo caso em relação às fotos. Tenho o maior cuidado em colocar os créditos necessários, já que, aqui, a não ser excepcionalmente, não peço autorização. E somente uma vez uma fotógrafa, da França, exigiu que eu a retirasse do Balaio. Lamentei, mas a substituí na hora. Em seguida, ela me agradeceu. O mais curioso foi a instantaneidade da ação; menos de duas horas após a edição da foto, eu já recebia um emeio me cobrando providências ou direitos autorais. Se eu ganhasse algum trocado com o Balaio, a minha postura seria diferente; só publicaria com autorização expressa.
Há quando tempo estás no Rio de Janeiro. São José do Seridó é um retrato na parede?
Cheguei no Rio em março de 1967, no auge das agitações estudantis e culturais contra a ditadura, que se ampliariam em 1968. Aliás, cheguei num domingo, na segunda eu completava 24 anos. Ah... me apaixonei por dezenas de mulheres, então. Não precisava mais freqüentar a zona, como em Natal. (Na verdade, tenho boas lembranças do Arpège, do Palácio do Governo – o popular Wunder-Bar –, da Boate Estrela, de Rita Loura...) Quanto a São José. É o seguinte: fui criado – infância e adolescência – entre Caicó e Jardim do Seridó. As três cidades são bastante próximas. Hoje, estão “unidas” pelo açude/barragem Passagem das Traíras. São José, mesmo, é um acontecimento recente em minha vida, mas a ela me sinto muito apegado, porque, afinal, foi lá que nasci, no sítio Caatinga Grande.
Recentemente o governo do Rio Grande do Norte instituiu o Prêmio Moacy Cirne de Quadrinhos, que objetiva revelar e premiar o talento dos artistas profissionais ou amadores do Rio Grande do Norte. Você já está pronto para ter o busto eternizado em metal e exposto em praça pública?
Pois é, até brinquei com o presidente da Fundação José Augusto, o poeta Crispiniano Neto (na prática, o secretário de cultura do governo estadual): “Puxa, morri e se esqueceram de me avisar...”. Fiquei contente, claro, mas acho meio esquisito, pra falar a verdade.
Pra finalizar, fala um pouquinho sobre o Chico Doido de Caicó, celebrado autor de poesias eróticas que você ajudou a divulgar no Sul do país.
Ah, o Chico Doido... Tenho uma história pra contar: em 2004 estive em Caicó à procura de uma puta que, garantira o escritor François Silvestre (na época, o presidente da referida Fundação José Augusto), fora amante de Chico Doido. “Entrada nos anos”, Ana Raposa – esse era o seu nome – me respondeu o seguinte: “Seu minino, fui amante de muitos homens aqui em Caicó. Posso ter sido, mas, confesso, não me lembro dele não. Mas de seu pai me lembro muito bem”. (Meu pai, em Caicó, era conhecido como Carcará: Pega, derruba e come). Enfim, o que dizer? Muitos acham, inclusive, que ele é criação minha; outros, criação do poeta e amigo Nei Leandro de Castro. Se eu fosse o seu criador, teria vivido uma situação possivelmente inédita nos anais das universidades brasileiras: em 1993 fui paraninfo de uma turma de Comunicação cujo patrono era... Chico Doido de Caicó. Já pensou?
É difícil falar do professor Moacy Cirne sem recorrer ao elogio entusiasmado. A tentação é grande, pois afinal ele é um intelectual reconhecido, que construiu uma sólida carreira no mundo das idéias, ministrando aulas na Universidade Federal Fluminense e publicando, desde os anos 60, cerca de duas dúzias de obras não apenas sobre comunicação social (especialmente, mas não só, no âmbito da análise das histórias em quadrinhos) mas ingressando também no universo da poesia. Aliás, a poesia é uma das grandes paixões do professor, que em 1967 o levou a criar, com companheiros de Natal e do Rio de Janeiro, o poema/processo, um movimento de vanguarda (anti)literária recheado de poemas semiótico-gráfico-visuais, além dos projetos semântico-verbais.
Sempre inquieto, na época da universidade (hoje está aposentado) Moacy Cirne criou um fanzine independente de uma página batizado de Balaio Porreta. Costumava organizar comemorações chamadas "Balaiadas" com distribuição de brindes como livros de arte e poesia entre os alunos do curso de Comunicação Social da UFF, para divulgar as edições especiais do Balaio. Desde 2007 o fanzine, que une textos provocativos, listagens de filmes, pensamentos e poesias, se transferiu para a internet sob a forma de um blog, o Balaio Porreta, que se caracteriza por ser um espaço generoso à participação de poetas e escritores da blogosfera.
O poema/processo nasceu a partir do concretismo, mas percebe-se nele uma grande manipulação da linguagem não-verbal. Quando surgiu o poema/processo e como você pode defini-lo?
Na verdade, o poema/processo surgiu como desdobramento formal de uma das vertentes criativas da poesia concreta, a do carioca-matogrossense Wlademir Dias Pino. Sim, porque três eram as suas vertentes: a de Augusto e Haroldo de Campos, e Décio Pigntari; a de Ferreira Gullar; e a de WDP, que apostava numa poesia mais gráfica e mais visual. Foi a que mais nos interessou. De resto, o poema/processo surgiu em dezembro de 1967, simultaneamente no Rio e em Natal. Há várias maneiras de defini-lo: possibilitar, por exemplo, a partir de uma dada matriz (gráfica) ou de um dado projeto (conteudístico), a criação de novos poemas – que chamávamos de “versões”. O poema, em si, jamais seria uma “obra acabada”: poderia ser enriquecido através de seu desdobramento ou de novos poemas, seja por seu autor, seja por outros poetas e/ou leitores eventuais.
Como aconteceu a sua participação neste movimento artístico?
Em 1966, morava em Natal – uma cidade, então, com pouco mais de 200 mil habitantes – e me sentia sufocado: a ditadura a todos acossava política e culturalmente. E eu era uma pessoa bastante inquieta. Tudo o que me parecia novo me interessava. Assim como me interessava a possibilidade de lutar de forma mais concreta contra a ditadura, sem entrar propriamente nos meandros da luta armada. A minha “praia” sempre foi o combate no campo das ideias. Conheci o Rio, então, e numa de suas livrarias adquiri vasto material dedicado à poesia concreta. De volta a Natal, reuni o pessoal amigo que fazia literatura entre nós e estudamos tudo aquilo com bastante afinco. Ao mesmo tempo, planejei me mudar para o Rio, definitivamente. Coisa que o fiz em março de 1967, já com o pensamento voltado para a experimentação em arte e literatura. Não saí de Natal pensando em conhecer Carlos Drummond, por exemplo. Que considerava e ainda considero um dos maiores poetas do país (embora prefira outros, como Murilo Mendes e João Cabral): saí de Natal pensando em estabelecer contato com Wlademir. A partir desse contato, final de março/começos de abril, conheci Álvaro e Neide de Sá, e fiz a ligação epistolar-documental entre o Rio e o Rio Grande do Norte.
"(Poesia) pode ser tanta coisa ao mesmo tempo: o sorriso de nossas filhas, de nossos filhos. Um filme de Jacques Tati. O olhar da pessoa amada. Uma cantata de Bach. Um gol de nosso clube de futebol – e a manifestação explosiva da torcida... "
O que é poesia para você?
“Poesia é a descoberta das coisas que nunca vi” (Oswald de Andrade). E pode ser tanta coisa, ao mesmo tempo, do abstrato ao concreto, e vice-versa. Um poema de Murilo Mendes. O sorriso de nossas filhas, de nossos filhos. Um filme de Tati, Jacques Tati. O olhar da pessoa amada. Uma cantata de Bach. Um gol de nosso clube de futebol – e a manifestação explosiva da torcida. Um quadrinho erótico de Manara. Um crepúsculo, uma aurora. Um poema de Zila Mamede – autora potiguar que nasceu na Paraíba. A sangria de um açude. Um quadro de Van Gogh. E assim por diante...
Há quanto tempo estás na blogosfera?
O Balaio, em sua forma impressa, quase artesanal, começou em 8/9/1986, quando era literalmente panfletado nos corredores e espaços abertos do Departamento de Comunicação da Universidade Federal Fluminense, e em bares da vizinhança, em Niterói. Em 29/10/2003 virou blogue com o nome de Balaio Vermelho. Em 28/1/2007, já com outro provedor, virou Balaio Porreta, em homenagem aos velhos tempos da Comunicação, quando era conhecido como “Balaio Incomum – uma folha porreta”. Mas, para mim, a grande data inaugural continua sendo 8/9/1986. Confesso que era muito divertido fazer e distribuir de mão em mão o velho Balaio, além de promover as “balaiadas” (cachaçadas, com direito a brindes) entre alunos, professores e funcionários do “Casarão” da Rua Lara Vilela, em Niterói. “Casarão” era o lugar onde funcionavam Cinema, Jornalismo, Publicidade e Arte, da UFF, bem entendido…
O Balaio Porreta surgiu como um fanzine impresso. Como foi a sua migração e adaptação para o universo virtual?
A migração/adaptação deu-se a partir de minha aposentadoria (em maio de 2003). É verdade que houve, antes, e não relatada em pergunta anterior, uma fase semivirtual. Como assim? Em 2002, deixei de lado uma velha máquina de escrever – a bichinha até que tinha alguns recursos modernos para a época – e passei a usar um computador. Quando entrei na internet, enviava o Balaio via emeio para uma porrada de gente. Lembro-me de uma blogueira, famosa na época, cujo nome me esqueci (mas o seu blogue realmente era interessante), que respondeu me espinafrando, acusando-me de fazer spam e outras bobagens. Ora, eu nada vendia através do Balaio, sequer os meus livros!
"(Tenho) um velho hábito: dividir afetivamente com as pessoas a arte e a literatura que me atingem. É uma maneira de fugir da solidão, na medida de minhas impossibilidades. "
O Balaio se caracteriza por ser um blog generoso, que publica principalmente textos de outros autores. Como é a garimpagem e como os escolhidos reagem à publicação de suas criações?
O Balaio sempre foi assim, já na sua primeira fase. Talvez seja o resultado de um velho hábito: dividir afetivamente com as pessoas a arte e a literatura que me atingem. É uma maneira de fugir da solidão, na medida de minhas/nossas impossibilidades. Já a garimpagem dos poemas e textos é um pouco aleatória; gostei, separei. Mais cedo ou mais tarde é editado. E de modo geral, as pessoas reagem bem à publicação; às vezes peço autorização; às vezes, não. Em alguns casos, sequer ficam sabendo. O mesmo caso em relação às fotos. Tenho o maior cuidado em colocar os créditos necessários, já que, aqui, a não ser excepcionalmente, não peço autorização. E somente uma vez uma fotógrafa, da França, exigiu que eu a retirasse do Balaio. Lamentei, mas a substituí na hora. Em seguida, ela me agradeceu. O mais curioso foi a instantaneidade da ação; menos de duas horas após a edição da foto, eu já recebia um emeio me cobrando providências ou direitos autorais. Se eu ganhasse algum trocado com o Balaio, a minha postura seria diferente; só publicaria com autorização expressa.
Há quando tempo estás no Rio de Janeiro. São José do Seridó é um retrato na parede?
Cheguei no Rio em março de 1967, no auge das agitações estudantis e culturais contra a ditadura, que se ampliariam em 1968. Aliás, cheguei num domingo, na segunda eu completava 24 anos. Ah... me apaixonei por dezenas de mulheres, então. Não precisava mais freqüentar a zona, como em Natal. (Na verdade, tenho boas lembranças do Arpège, do Palácio do Governo – o popular Wunder-Bar –, da Boate Estrela, de Rita Loura...) Quanto a São José. É o seguinte: fui criado – infância e adolescência – entre Caicó e Jardim do Seridó. As três cidades são bastante próximas. Hoje, estão “unidas” pelo açude/barragem Passagem das Traíras. São José, mesmo, é um acontecimento recente em minha vida, mas a ela me sinto muito apegado, porque, afinal, foi lá que nasci, no sítio Caatinga Grande.
Recentemente o governo do Rio Grande do Norte instituiu o Prêmio Moacy Cirne de Quadrinhos, que objetiva revelar e premiar o talento dos artistas profissionais ou amadores do Rio Grande do Norte. Você já está pronto para ter o busto eternizado em metal e exposto em praça pública?
Pois é, até brinquei com o presidente da Fundação José Augusto, o poeta Crispiniano Neto (na prática, o secretário de cultura do governo estadual): “Puxa, morri e se esqueceram de me avisar...”. Fiquei contente, claro, mas acho meio esquisito, pra falar a verdade.
Pra finalizar, fala um pouquinho sobre o Chico Doido de Caicó, celebrado autor de poesias eróticas que você ajudou a divulgar no Sul do país.
Ah, o Chico Doido... Tenho uma história pra contar: em 2004 estive em Caicó à procura de uma puta que, garantira o escritor François Silvestre (na época, o presidente da referida Fundação José Augusto), fora amante de Chico Doido. “Entrada nos anos”, Ana Raposa – esse era o seu nome – me respondeu o seguinte: “Seu minino, fui amante de muitos homens aqui em Caicó. Posso ter sido, mas, confesso, não me lembro dele não. Mas de seu pai me lembro muito bem”. (Meu pai, em Caicó, era conhecido como Carcará: Pega, derruba e come). Enfim, o que dizer? Muitos acham, inclusive, que ele é criação minha; outros, criação do poeta e amigo Nei Leandro de Castro. Se eu fosse o seu criador, teria vivido uma situação possivelmente inédita nos anais das universidades brasileiras: em 1993 fui paraninfo de uma turma de Comunicação cujo patrono era... Chico Doido de Caicó. Já pensou?
0 comentários:
Postar um comentário