EntreAspas
Crônica da dor crônica
"A inveja é bastante justa, pois rói o invejoso"
(Schottus)
Dia destes, conversando com uma amiga, falávamos de algumas dores que consideramos crônicas e enfartantes para a alma. Chegamos à conclusão que uma destas dores deve ser causada pela inveja. Não estou a falar da tal inveja branca, esta que nos acomete quando estamos frente a algo belo. Neste caso, ficamos a admirar e a pensar no quanto gostaríamos de ser o autor/autora de tal beleza. Ficamos nisso. Sem nenhum ato destrutivo ou palavras discriminadoras.
Estou a falar daquela inveja amarga, destruidora, perniciosa. É, o invejoso deve sofrer as penas do inferno. E não injustamente. Ouso dizer: merecidamente. Porque inveja é dor opcional. Ninguém precisa se roer, se corroer por se sentir inferior a outro ou condená-lo por aquilo que não se tem coragem de fazer.
É, você até pode dizer que cada um faz as suas opções. Concordo. Mas quem é bem resolvido, faz suas opções e respeita quem faz escolhas diferentes das suas. O invejoso não. Na verdade, nem sei se uma pessoa assim consegue fazer escolhas. Tendo a acreditar que apenas se acomoda no que pensa a maioria. Sei que, por não ter ou ser o que gostaria, passa a discriminar, menosprezar, espezinhar aquele que tem coragem de fazer suas próprias regras, traçar seus próprios caminhos, independente da aprovação do mundo.
O invejoso é um cara muito inseguro. Em geral, quem está neste nível de insegurança, a ponto de agir declaradamente sob o sentimento da inveja, é mal amado até por si mesmo. E por não se amar, não consegue ter atitudes afetivas, destituídas de interesses, não consegue se dar ao amor. Confunde amor com uma série de regras, leis, contratos. E quando consegue alguém disposto a dar-lhe um voto de confiança, mata a esperança porque não se sente capaz de regar o canteiro dos sentires.
Daí a concluir: o invejoso é seco, amargo e chato - mesmo que às vezes se finja de alegre ou bonzinho ou amigo. Alguns, até demonstram inteligência - mas não uma inteligência emocional capaz de mostrar-lhe que ser é muito mais que ter. Ou que para estar é preciso investir. Outros conseguem apenas fazer coro e engrossar a fila dos chamados demalcomavida.
Enfim, devem sofrer bastante estes pobres coitados. Que curtam suas dores crônicas bem longe de mim. Do jeito que sou boba, ainda serei capaz de querer salvá-los de si mesmos!
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