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domingo, 3 de maio de 2009

Trivialmente

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Os Sadomasoquistas

Eles freqüentam bares e restaurantes, passeiam pelos parques e outros lugares públicos como todas as pessoas; podem morar no apartamento ao lado ou trabalhar na mesma sala que você. Pode ser o seu médico, a sua advogada, o gerente do seu banco ou a dona daquela butique onde você gosta de comprar. Apenas um detalhe os diferencia: eles possuem um código em comum, de confiança e segurança, onde sempre é acordada uma palavra chave para cessar a cena. Ao contrário do que muitos pensam, não são pessoas necessariamente agressivas ou rudes; podem ser extremamente educados, cultos e delicados. São os sadomasoquistas, pessoas que possuem uma tendência para práticas sexuais que incluem idéias de dominação e submissão ou de impingir ou receber estímulos dolorosos ligados ao prazer.

Tendências sadomasoquistas existem em qualquer pessoa, como parte das múltiplas expressões da complexa sexualidade humana e todos temos a capacidade de expressá-las, de acordo com nossas vontades. Na maioria dos casos reprimidas ou vindo à consciência como sonhos ou fantasias, sem jamais se expressarem na prática. Por outro lado, os que exercitam sua porção sadomasoquista, atuam em diversas técnicas sádicas, masoquistas ou em ambas, sendo estes últimos, os verdadeiros sadomasoquistas. Uma relação SM pode expressar-se sob variadas formas: relações estáveis e duradouras, eventuais e fortuitas, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, em duplas ou em grupos. A regra básica é o consentimento, portanto, não existe ato sadomasoquista que aconteça sem a concordância do parceiro.

Então, vale lembrar que o fato de as práticas sadomasoquistas se pautarem por atividades sãs, seguras e consensuais, caracteriza o limite entre o SM aceitável, diferente de práticas hediondas e patológicas que, aí sim, têm a ver com doenças mentais e desvios de conduta.

Frequentemente as pessoas não entendem o porquê dos jogos, aparentemente dolorosos. Pense nisso: você já teve sexo intenso e depois notou marcas de mordida (que você nem se lembrava que tinha levado) no seu pescoço? O que aconteceu foi que seu parceiro mordeu você com força suficiente para deixar as marcas e tudo o que você sentiu foi prazer, provavelmente muito prazer. Se levasse uma mordida assim tão forte numa ocasião em que não existisse sexo, você gritaria, porque isso machucaria muito. Mas, quando você está sexualmente estimulado, a sua tolerância à dor aumenta, e o estímulo que habitualmente sente como dor se torna, então, prazeroso. No exercício físico continuado, o cérebro produz endorfinas, assim como quando sua pele é estimulada pelas agulhas da acupuntura. Em ambos os casos, o cansaço físico ou a dor das agulhadas são substituídos por uma sensação de bem estar e prazer. É isso que faz com que os praticantes de SM sintam prazer em serem espancados, ou seja lá o que for. Não é dor: é prazer!

Tudo o que é novo é aquilo que nos é diferente. E tudo o que nunca vimos antes, invariavelmente nos parece estranho e pode até nos causar medo, mesmo que, no fundo, nos cause certo fascínio. Por demonstrarem claramente a existência e a possibilidade de aceitação de impulsos considerados pela moral vigente como “impuros,” “negativos” e “ruins”, os sadomasoquistas podem causar repulsa e até mesmo horror por parte da sociedade dita “normal”. O conhecimento – e apenas o conhecimento – de todos estes processos nos dá a consciência de que podemos refletir sobre os nossos próprios medos e a partir de uma postura mais racional, podemos combatê-lo de forma declarada, com coragem e compreensão de que o que nos é diferente não necessariamente é ruim.

Eu conheço um cara que, além de ser conceituado psiquiatra, é assumidamente sadomasoquista. E todo esse “conhecimento” que tenho do assunto devo às nossas conversas e também a alguns textos publicados por ele.

Por isso costumo dizer que é melhor vivermos as nossas vidas intensamente e com muito prazer, seguindo nossos instintos, vocações e vontades sem, no entanto, nos enganarmos disfarçando ou diminuindo qualquer traço que exista em nossas personalidades. Vivamos as nossas vidas convivendo harmoniosamente com nossos semelhantes sem nos preocuparmos com suas vidas e, muito menos com suas preferências quando vão fazer sexo. A menos, é claro, que desejemos fazer sexo com eles.


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