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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Falhas nas conexões cerebrais

Das coisas que me aconteceram

E lá estava eu, a Cerejinha, no auge dos meus 17 anos, em uma das festas góticas (não torça o nariz, leitor. Eu já fui gótica, sim.) que aconteciam em velho casarão, situado em Guarulhos/SP, acompanhada de meu marido, que na época era meu namorado, claro.
A iluminação do local era precária. Com dificuldade reconhecíamos amigos e quando isso acontecia, parávamos para conversar. Bebemos muito, refrigerantes. Dançamos muito ao som que saia das pic-ups do DJ Tony que alternava com a DJ Polly, que eu sinceramente não achava assim tão boa como DJ, apesar de achar bem bacana naquela época uma mulher discotecar. Os meninos, a maioria, achavam a Polly boa, se é que vocês me entendem.
Já lá pelas tantas da madruga, cansados e suados de tanto saltitar na pista de dança, resolvemos ficar paradinhos olhando a movimentação num canto do casarão. O meu marido, ops! namorado, parado atrás de mim, simulava (muito mal) alguns passos de dança. Eu, com os olhinhos bem abertos a procura de um casal de amigos. Foi quando avistei um moreno, ou era loiro? Desde aquela época não sei como definir alguém que tem os cabelos castanhos claros. Mais era isso, o moço tinha (e ainda deve ter, espero!) os cabelos castanhos claros, estilo Keanu Reeves em 'Alguém tem que Ceder'. O meu olhar parou nele por um simples motivo. Um não, vários. Vamos a alguns deles: (1)Ele olhava insistentemente em minha direção. (2) Ele era liiiiiiiiiiiiindo! (3) Tinha o rosto quadrado, com os maxilares um pouco proeminentes, os lábios retos e carnudos com uma pinta no canto superior esquerdo (um charme!), olhos grandes. (4) Ele era liiiiiiiiiindo! (5) O rosto dele é um daqueles que eu classifico de rosto de vampiro, mais especificamente parecido com George Hamilton em "Amor a Primeira Mordida". (6) Um pescoço largo. Sim, desde novinha eu tenho essa fixação. Como fazia calor, as mangas da camiseta preta (óbvio!) estavam arregaçadas, o que proporcionava a visão daqueles braços lindos, com um dragão (7) tatuado, (8) coxas grossas embaladas em uma calça preta (óbvio!) e ele fugia um pouco do lugar comum, (9) não usava coturnos! Claro que percorri meus olhos debaixo para cima também, podia ter perdido algum detalhe.

E eu olhava. E ele olhava.

Vocês devem estar pensando: "Que descarada! Com o marido, ops!! namorado a tira-colo e olhando para outro!?!" e eu respondo: Claro! O que é bonito não deve ser olhado? E eu tinha um ponto a meu favor: o menino também estava acompanhado de uma liiiiiiiiiiiiiiiiinda garota, logo, não representava perigo.
E no mais, eu estava adorando! Sabe aquela coisa de adolescente que quase nunca se sente bonita, que sempre acha o cabelo da outra mais ajeitado e mais liso do que o seu, que sempre acha que a roupa não está te favorecendo, que sempre acha que o sorriso da outra é mais branquinho que o seu (e olha que naquela época eu nem fumava ainda!)? Pois é. O liiiiiiiiiiiiiiiiiiindo estava fazendo um bem danado para o meu ego juvenil!
Quase cinco longos minutos depois, os olhares continuavam insistentes e eu toda empolgada. Foi mais ou menos por aí, depois dos cinco longos minutos, que a acompanhante dele deu-lhe um selinho e se afastou. E logo em seguida o menino liiiiiiiiiiiiiiiiindo pôs-se a andar em minha direção.
Gelei! E pensei: Putz! Deve achar que eu estou sozinha ou que Namorado é apenas um amigo, já não está abraçado a mim, nem me deu um beijinho qualquer. E ele se aproximando e eu pensando em sair correndo, ou me jogar numa escada ligeiramente próxima, bastaria dar um peixinho e lá estaria eu, rolando escada abaixo, a vergonha seria menor, a desgraça menos dolorida...
Mas, graças a Deus, o medo enraizou-me ao piso do casarão e em poucos segundos o menino liiiiiiiiiiiiiiiiindo, com um sorrisão enorme, parou na minha frente. Eu, quase chorando o vi abrir a boca pra dizer:
- Oi!!! Quanto tempo, cara! Faz um tempão que eu estava ali (e apontou para o lugar de onde veio) tentando descobrir se era você mesmo!
Pois é. Esqueci de dizer que uso óculos desde os quinze anos, alguns parcos graus de miopia me atrapalham a visão e justo nesta noite resolvi não usá-los por vaidade...
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