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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Conversas de um velho safado

A hora da traição

Homem múltiplos talentos, entre as muitas atividades que exerço está a de conselheiro sentimental. Eventualmente, presto consultoria sobre assuntos ligados à paixão e ao sexo. Notei que uma das principais preocupações de meus companheiros de armas (isto é, teclado e copo) diz respeito ao adultério. Não se trata de questões de ordem moral ou religiosa, visto que meus consulentes já se libertaram destes entraves de consciência típicos da civilização cristã e ocidental (quanto às outras, não tenho informação). O que a distinta clientela do Bar do Alemão, onde se localiza meu consultório, anseia por saber é qual a melhor hora para trair: manhã, tarde, noite, nenhuma das alternativas anteriores?
Confesso que não sou expert em adultério. Apesar das maledicências espalhadas pelos meus inimigos, nunca cheguei às vias de fato, vamos dizer assim, na modalidade. Não entendam mal: desde sempre desejo a mulher do próximo. No entanto, conceitos éticos severos (e, especialmente, o medo da reação de eventuais maridos ciumentos – nem todo corno é manso) me impediram, até o momento, de transformar sonhos ardentes em doce e selvagem realidade. Mas não mais tergiversarei. Vou direto ao ponto.
A fim de sanar a ignorância e atender aos reclamos do meu povo, pesquisei sobre o assunto. Descobri que a tarde é o período mais apreciado para consumar a traição conjugal. O preço dos motéis é mais barato, a patroa está sossegada em casa e sempre é possível contar com a compreensão da chefia para uma escapadela de 1 ou 2 horas, preferencialmente às terças e quintas-feiras (não me perguntem a razão). Uma escapadinha na hora do almoço também é muito cotada.
Compulsando dados históricos, achei interessante o registro de que lord Bertrand Russel, matemático, filósofo e pacifista radical, deu um novo significado ao tradicional chá das 5 dos súditos da rainha. No início do século passado, enquanto a fina flor da aristocracia britânica debatia acaloradamente na Câmara dos Lordes, ele escafedia-se para promover contendas mais íntimas, e igualmente animadas, com as esposas de seus pares. Russel foi uma das mentes mais brilhantes que viveram no século 20. É um dos meus heróis.
Outra constatação decorrente dos meus estudos: à noite, ao contrário do senso comum, não é um bom horário para consumar a traição. Mentiras como futebol com os amigos ou a necessidade de horas extras de trabalho invariavelmente são descobertas. As mulheres têm o faro especialmente desenvolvido para desvendar estes artifícios, sem falar no auxílio luxuoso do celular. A título de curiosidade, informo que existem também os adeptos do madrugadão, geralmente parceiros de cônjuges que trabalham em hospitais ou no setor de segurança privada.
Bem, esta conversa já está muito extensa e preciso colocar um ponto final, para não atiçar ainda mais a ira da minha editora gostuduzulda, mas tirana. Assim, para finalizar, depois de profunda avaliação recomendo a quem queira trair que opte pelas primeiras horas da manhã. Ninguém em sã consciência (não é o meu caso) acredita que alguém tenha disposição – e libido – para cometer adultério às sete horas da matina.
Portanto, vamos à luta, companheiros. Ou não.

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