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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Falhas nas conexões cerebrais

"Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferenteainda émuito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não éuma relação de igualdade,
mas de superioridade de um sobre o outro."
(José Saramago)

Desde 2000, aqui em São Paulo, no Campeonato Paulista – O Paulistão -, não tínhamos semifinais com os clássicos. Um G4 realmente G4. E isso logo me fez pensar nas torcidas organizadas. Na violência, gerada pelo preconceito e pela intolerância.
Sou sãopaulina e, particularmente, não ligo se me chamam de bambi. Não fico depressiva porque não ganhamos esse campeonato. Dói, mas não morro, nem mato ninguém, porque perdermos para o Corinthians de 2 a O.
Além de ajudar financeiramente o seu clube, a torcida organizada tem o papel de ajudar a tornar o jogo um espetáculo, uma festa. Para que haja um jogo é preciso que tenha dois times e isso implica ter duas torcidas, certo? Então é preciso tolerar que outras pessoas não tenham o mesmo gosto refinado que você. Ou seja: é preciso tolerar o palmeirense, o corintiano ou o santista e só assim seremos capazes de convivermos entre os diferentes sem tragédias causadas por uma paixão, um divertimento.
É uma vergonha, mas nunca fui a um estádio assistir uma partida de futebol. Mas se tivesse ido, faria parte daquela turma que agüentou as provocações da torcida adversária numa boa, bateu palmas para o seu time (mesmo perdendo de 2 a 0 para o Corinthians), que reconheceu o esforço dos jogadores (exceto no 2º tempo), que saiu do estádio, pegou seu metrô, chegou em casa, tomou banho e foi dormir porque amanhã era dia de branco.
Claro que na tolerância há sempre uma tensão entre os lados. Tolerar é suportar a existência do outro, dentro ou fora do estádio e não deixar que divergências nos brutalizem e desumanizem a ponto de perdemos toda e qualquer possibilidade de contato civilizado.
Pensando em outras questões, não apenas na futebolística, como também nas religiosas e raciais, o termo intolerância, que causa tantas mortes, me faz analisar o seu antônimo: tolerância. Pois bem, o que seria a tal da tolerância? Não é acolher, gostar ou entender, muito menos respeitar. Está mais para suportar. Suportar um peso.
Seguindo esse fio, na tolerância há uma relação paternalista onde há um sabichão com uma pose arrogante que somente suporta o outro e tudo que seja diferente dele. O que não é uma postura muito inteligente.
Olhando a tolerância do ponto de vista emocional, ela cria, entre o tolerante e tolerado, uma relação condescendente. Vê como nos referimos? To-le-ra-do. Não soa um tanto quanto condescendente? Enfim...
Do mesmo modo que o contrário de amor não é ódio, mas sim indiferença, o contrário de intolerância não é tolerância, mas sim Res-pei-to às diferenças. Por isso não quis escrever sobre intolerância racial, ou intolerância religiosa, ou a lactose. Porque nesses assuntos, se me digo contra a intolerância, me digo a favor da tolerância, de suportar pessoas que acreditam em um deus diferente do meu, ou que tenham a cor da pele diferente da minha, ou que não possam ingerir leite e seus derivados. E não é isso. Eu não tolero, eu respeito.
Agora, convenhamos, não ser sãopaulino é uma falha no caráter que, com muito esforço, eu tolero, mas não respeito.

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