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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Conversas de um velho safado



A marcha da insensatez

- Mudança de planos.
- Como assim?
- Vou namorar. Gosto dele, é um cara legal.
- Mas ele não é negro?
- É. E daí?
- Ué, tu nunca gostou de negro. Sempre teve nojo. Raiva, até. O que mudou?
- Näo sei. Só sei que ele é diferente. Gosto dele.
O diálogo acima aconteceu muito tempo atrás entre duas garotas brancas – minha primeira namorada e sua melhor amiga – e apenas reafirmou que a intolerância e o preconceito são filhos diletos da ignorância, ou melhor, do desconhecimento, uma verdade que persiste até hoje. Desde então pouco mudou, as aparências ainda governam nosso modo de ver o mundo. A cor da pele, o modo de vestir, a opção sexual, a crença religiosa, a ideologia política e até mesmo a cor clubística prosseguem determinando a aceitação do próximo, nosso semelhante e irmão. Somos todos iguais. Mas nem tanto assim.
Particularmente, no meu rincão natal, o Rio Grande do Sul, a intolerância é muito acirrada. Aqui, desde sempre as relações sociais são marcadas pelos confrontos: chimangos x maragatos; direita x esquerda; gremistas x colorados; petistas x antipetistas. Pouco adianta, na praticidade do dia a dia, constatar que “as aparências enganam aos que amam e aos que odeiam”, ou seja, que independente das suas características raciais, sexuais ou políticas o sujeito seja um ser humano decente. Prevalece o preconceito ditado pela avaliação superficial. É como se precisássemos excluir quem pensa e vive de forma diferente para afirmar a correção de nossos valores. Precisa ser assim, “cada um no seu canto, em cada canto uma dor”? Não sei. Oscar Wilde disse que só os tolos não se deixam levar pela primeira impressão. A frase é boa, mas não é verdadeira, pois é este comportamento da maioria parva que fomenta a violência nossa de cada dia.
Constato e critico o fenômeno, mas não sou um exemplo a ser seguido. Também cultivo rancores amparados apenas na superficialidade.
A advertência está na Bíblia: se um cego guiar outro cego ambos cairão no abismo. É para onde estamos indo.
O pior cego é aquele que não quer ver.

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