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sexta-feira, 20 de março de 2009

Shi's a lady

Bicudos se beijam em qualquer idade
Lembro com grande nitidez que um dia, há algum tempo atrás, eu estava deitada no chão, assistindo TV, aos pés da máquina de costura de mamãe, quando de repente vi um casal de velhinhos se beijando. Não lembro se era um filme ou uma novela, só sei que eu disse, toda risonha e inocente,: "eita, velho se beija?". Mamãe pulou que nem uma "zeburana" da cadeira e respondeu, a gentileza em forma de gente: "por que tu acha que velho não beija? Velho também é gente, mocinha!" Ela provavelmente me deu algum castigo que, graças aos céus, agora não me recordo qual foi.
Isto se passou há mais de 20 anos e eu era criança. Hoje, quem acha que o que está velho não funciona mais ou está morto, está "quadradamente" enganado, pois enganar-se "redondamente" fica para as pessoas de mente aberta e não para alguém cheio de preconceitos. Que eu saiba, o mundo é redondo. Uma pessoa de certa idade tem, sim, vida própria, e, sim, beija na boca, faz sexo. Provavelmente o que as pessoas mais velhas fazem é feito com muito mais prazer, pois quem já experimentou de tudo um pouco já não tem mais aquela angústia psicológica, aquela preocupação com o que os outros vão falar.
Para muitos filhos, é mais cômodo pensar que seus pais, por já estarem com certa idade, não fazem mais nada na cama além de colocar a cabeça no travesseiro e roncarem cândida e sonoramente. O chato é que alguns só vão saber a verdade quando estiverem com a mesma idade – pelo menos é esta a minha torcida: para que eles descubram que exageraram ao acreditar que o "papai", já tão velhinho, não vai ter coragem de "fazer mal" à "mamãe", coitadinha, também já tão velhinha; ou que eles não conhecem outra posição além da tradicional "papai-mamãe" (ou "vovô-vovó", como queiram). Como se sexo fosse sinônimo de sofrimento! Quem não conhece casais que dormem em camas separadas, mas que nem por isso deixam de "sofrer", de vez em quando?
Eu, de minha parte, já deixei bem avisado que, quando estiver velhinha, encurvada, os cabelos fofos de algodão, vou querer caducar bastante em cima de uma cama, mesmo que eu só esteja conseguindo mexer os olhos. Quero sofrer bastante na minha velhice e ai de quem tentar me impedir ou reprimir. O que importa, para mim, é que ter um coração (ao contrário do corpo, que insiste em virar pó antes do tempo) que não envelhece e que está prontíssimo para suportar as agruras de um latejar constante e eterno. Usando o poeta que já virou clichê: enquanto durar, está bom demais!
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