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quarta-feira, 25 de março de 2009

Falhas nas conexões cerebrais

Eu e a maternidade
Ela nasceu no dia 15 de junho há pouco mais de seis anos, em uma manhã gelada. Tão pequenina, tão indefesa, tão despreparada, tão desavisada que um sopro meu encheu-lhe o pulmão e fez ecoar forte pela sala de parto o primeiro susto que a vida fora de mim lhe proporcionaria.
Quando grávida, eu como toda mãe, queria saber do seu rosto, dos seus jeitos, do seu temperamento. E como toda mãe, queria carregá-la para sempre em meu ventre. Sabe aquela ambivalência que toda mãe tem de querer e não querer que seu milagre, quem sabe o único, seja exposto, materializado?
Olhava o mundo à minha volta e pensava que ele não a merecia. Talvez nem eu a merecesse. Duvidei que Deus soubesse mesmo o que estava fazendo colocando-a neste mundo. O meu anjo. Não dizem que todos têm um anjo? O meu está aqui, dormindo neste momento, de bochechas rosadas e semblante angelical.
Há noites em que ela anda mansamente na escuridão do cômodo, com os pezinhos como que iluminando brandamente seu caminho até minha cama. De forma suave, quase imperceptível, entre nós se instala na cama. Como tem sido em dias que tem pesadelos. Ok, acabo sentindo que esta lá seja por um chute que recebo ou um empurra daqui, empurra dali para que ela se acomode na cama, mas logo ganho um abraço e um beijo e todos os meus investimentos para que durma sozinha caem por terra. Esse meu anjinho é esperto. Sabe como desarmar-me.
E tendo-a tão pequena, tão frágil, tão ingênua ao meu lado fico pensando até quando poderei poupá-la de algumas dores, de alguns sofrimentos.
Sei que é inútil querer que minha filhota não sofra por perdas, ou por amores que não darão certo, ou evitar que pessoas façam mal ao meu (eterno) bebê. Ela tem asas nos pés, brilho nos olhinhos, candura nos lábios quando se abrem em um sorriso, mãos que aliviam as dores, porém é uma criança e inevitavelmente (droga!) se tornará adulto. Com todas as qualidades e defeitos de um mortal. E o que eu posso fazer para remediar isso? Ajudá-la para que não se torne uma simples mortal, uma simples humana. E como fazer isso? Não sei ao certo ainda. Talvez ensinar-lhe o (que eu julgo) certo e o errado, dar-lhe educação, tentar fazer com que ela saiba discernir e aplicar o que é justo, fazer que com tenha consciência de que tudo o que faz, seja bom ou ruim, voltará em proporções dobradas à ela.
Quantos anos eu demorarei a cortar o cordão umbilical? Também não sei. Uma vez ouvi que filhos são gerados até fora do útero, mas não posso esquecer que Mini-me (uma das formas carinhosas que a chamo) não é uma versão melhorada de mim. Ela é ela.
E nessa peregrinação não deixar que, nem por um segundo, duvide que eu a amo. Do jeito que ela é. Que por ela, e só por ela, meu amor é incondicional. E que eu e seu pai estamos fazendo o nosso melhor para que seja bem sucedida, confiante, uma pessoa feliz. Estamos nos esforçando para que não tenha medo do mundo, nem de ninguém, nem dela mesma.
Outro dia, caminhando com Mini-me, explicava à ela o porquê de comer frutas, legumes e outras coisas que normalmente as crianças torcem o nariz e eis que veio a pergunta:
- Mamãe, se eu comer tudinho vou crescer né? Dói crescer?
Olhei para ela, que esticava os bracinhos e os pezinhos como se crescer fosse uma brincadeira, divertindo-se em alongar-se toda.
- Dói um pouco, Mini-me, mas é bom. E eu e o papai vamos crescer juntos com você, tá?
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