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sexta-feira, 13 de março de 2009

A Convidada

Além do conto de fadas

Se tentarmos encontrar em nosso parceiro o príncipe encantado dos tempos áureos da paixão, é melhor sentar ou, então, aceitar a realidade que par perfeito não existe e que o "felizes para sempre" só se deu nos filmes e contos de fadas e, mesmo assim, por terem terminado a história antes dos dois dividirem o mesmo teto.
Teremos mais chances de sermos felizes se vermos nosso parceiro como pessoa real, de carne e osso, dono de defeitos e qualidades, erros e acertos, como todo mortal, sem buscarmos atalhos para conflitos conjugais, evitando as frustrações e desapontamentos sobre o modelo imaginário que antes era príncipe e acabou virando sapo.
O número de homens e mulheres que não escapam da armadilha da idealização lotaria vários estádios de futebol e as fontes mais poderosas que os levam a estas decepções são, geralmente, as culturais, que apresentam o amor como tábua de salvação, haja vista o conto da Branca de Neve, da Bela Adormecida, da Cinderela, que foram salvas pelo amor do príncipe encantado e que nenhuma delas conhecia, mas o destino os faria encontrá-las e resolver os seus problemas para sempre.
É comum, ainda, o ser humano traçar o perfil daquele que poderá chamar de seu (sua), começando a desenhá-lo desde a infância, usando como base as pessoas que considera importantes para si, levando em conta as qualidades e tudo o mais que admiram nelas. Se já estamos amadurecidos psicologicamente, esta construção mental simplesmente nos servirá como indicador sem embaçar nossa percepção de que o outro é real, que deixa a toalha molhada em cima da cama ou que demora a se vestir e se arrumar ou, ainda, que falta dinheiro para pagar todas as contas no final do mês, etc.
Diferentemente dos que se deixam confundir quando estão apaixonados e passam a ter comportamento simbiótico em relação ao outro, renunciando a projetos pessoais, só vivendo em função da pessoa amada.
Mais dia menos dia, o castelo imaginário cai por conta dos reveses da vida e muitos poderão se considerar vítimas das circunstâncias, sentindo-se frustrados inevitavelmente, podendo levá-los a agressões, desrespeito, menosprezo pelo o companheiro, ou, então, o(a) sonhador(a) torna-se apático, quase um morto vivo na relação.
Erramos quando só reclamamos do outro, sem contribuirmos e darmos espaço para que as mudanças ocorram.
Só falar mal irrita. Envolvimento afetivo é saudável quando nos predispomos a aceitar limitações e fraquezas do companheiro e a buscarmos as mudanças por meios construtivos.
Evidentemente, não há receitas nem fórmulas milagrosas que garantam êxito nas tentativas de mudança, mas, sempre é bom lembrar que, segundo especialistas, o sexo feminino é mais propenso à idealização, pois as mulheres são influenciadas por sentimentos românticos e, para elas, encontrar um bom parceiro é fator determinante para sua felicidade, assim como para os homens, só que eles também encontram realização na vida profissional e conseguem novas uniões com mais facilidade.
O importante é ver a vida não como num filme romântico, onde se encontra a alma gêmea e que os anos podem passar, mas, ela ou ele jamais deixará de ser atraente, lindo, romântico e que sempre corresponderá ao nosso amor e dedicação, mas sim, entender que não somos perfeitos e que devemos nos dar a chance de vivenciar o afeto sem as fantasias que poderão levar-nos a querer prender o parceiro numa armadura comportamental.
Embora dê bastante trabalho o recomeço, valerão a pena todas as boas tentativas de mudança para se viver uma vida real e não um conto de fadas.
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Sonia Astrauskas do blogue Roda de prosa
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