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segunda-feira, 30 de março de 2009

Conversas de um velho safado



O princípio do fim

Além de abençoado por Deus e bonito por natureza, o Brasil é um país peculiar no que tange a obediência das regras sociais. Aqui tem leis que não “pegam”, isto é, existem no papel, mas não são cumpridas pelo cidadão e, geralmente, fica tudo bem. Um exemplo recente é a lei que proíbe o motorista de dirigir sob o efeito de bebida alcoólica. Tão logo foi promulgada, teve-se a impressão de que iria pegar, em razão da fiscalização intensa e a cobertura espalhafatosa na mídia. Era fogo de palha. Não vingou.
Mas não somos uma nação de bárbaros que vivem à margem da lei. O Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo, pegou. Hoje, pune-se com rigor os maus tratos às crianças. Atualmente são inadmissíveis as inofensivas chineladas corretivas que a mãe aplicava no meu traseiro na tentativa de domar o pequeno selvagem que eu era (conseguiu, parcialmente; graças a um chinelo velho sou um sujeito mais ou menos decente). Porém, sob a ótica vigente nestes tempos modernos, minha mãe seria uma megera, passível de ser alijada da função de educar os filhos. Neste quesito, a recomendação dos especialistas são doses generosas de compreensão não só no recesso do lar, mas também em outras esferas do convívio social. O anjinho de 14 anos pegou o revólver do papai e matou um desafeto na escola? A aluna revoltada agrediu a professora? O inocente de 17 anos matou por causa de ciúmes da namorada, rixa de gangues ou para roubar drogas? Garotos queimam mendigos, espancam negros e homossexuais por diversão? Calma, nada de pânico – a suavidade de uma pena sócio-educativa, acoplada a muita conversa e carinho, vão recolocar os pequenos malfeitores na trilha do Bem.
Ainda não me tornei um defensor da vara de marmelo e também não ando pelas ruas clamando por Herodes, mas acredito que alguma coisa está errada quando os adolescentes desconhecem quaisquer regras de conduta ética e moral. Apesar de ter educado minha Rainha Preta Mari Timm sem um único castigo físico, esta vitória pessoal não elimina o sentimento de fracasso generalizado. Minha geração falhou na tentativa de construir um mundo melhor, mais justo e menos violento. Em nome da convivência fraternal, criamos uma horda selvagem que se movimenta pelo mundo basicamente em função da satisfação das suas necessidades mais primárias e execráveis,.
Estamos mergulhados em uma tempestade de merda. Pior, temo que estejamos recém no início desta jornada tenebrosa.
É um tempo sem sol, um tempo de guerra.

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