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terça-feira, 3 de março de 2009

Conversas de um velho safado


Elas

- Qual é a pauta?
A resposta foi curta, direta, simples.
- Mulher.
Claro. 8 de março é o Dia Internacional da Mulher. Por vezes, não há como fugir do óbvio.
- E então? – indaguei para Bob, o botão da minha primeira calça Levi´s nos longínquos anos 70, desde então confidente e amigo íntimo. Judicioso, ele alinhou algumas opções.
1. Exaltar a paixão e o amor desmesurado que sinto pelas deusas.
2. Homenagear as doces feiticeiras, relembrando ativistas pela emancipação das mulheres, como Betty Friedman, Gloria Stein, Germaine Greer e a injustamente pouco reverenciada, Mary Quant – a inventora da mini-saia .
3. Nenhuma das alternativas anteriores. Pelo menos uma vez não seja cínico, tente não ser engraçadinho. Deixe o coração falar - recomendou meu amigo metálico.
Esta última observação me deixou incomodado.
-Alguém quer ser despachado para o lixo reciclável – observei.
Bob riu.
- Bobagem, tu precisa de mim, sentenciou.
Ele tem razão. Disney criou o grilo falante. Outros têm como interlocutores os botões da blusa ou da camisa. A minha consciência crítica é o Bob. Ele me irrita, abusa, provoca. Eu fico indignado, mas me rendo aos seus desafios. Eterno aprendiz, acredito que me faz crescer. Talvez me torne um homem melhor.
Assim sendo, fala coração.
Gosto de mulher. Sem elas não seria o que sou. Vou além: sem a mulher o homem não é nada. David Herbert Lawrence, definiu com mais propriedade e simplicidade em O Amante de Lady Chatterley: “um homem precisa de uma mulher.” A propósito, este livro, que li nos meus anos juvenis, foi uma revelação, sobre os quereres e carinhos de uma mulher. Depois, claro, me encantei com Gustave Flaubert (“Madame Bovary cest moi”). Completei minha educação sobre a alma feminina com Érico (Ana Terra) e Jorge (Teresa Batista Cansada de Guerra). Recomendo.
Quem me concede o privilégio da sua atenção já percebeu que sexo – e o prazer que ele proporciona, quando se concretiza em troca, parceria e cumplicidade – é um componente fundamental nos caminhos que tracei – e traço – nas quebradas do meu mundaréu. Mas em se tratando de mulher tem mais, muito mais, infinitamente mais. Tem a mãe – “meu filho ande direito que é pra Deus te ajudar” ou um simples “te cuida”. Tem a força, a magia da amante amada – “tudo vai dar certo. Você vai vencer. Malditos sejam teus inimigos”. Tem a prudência – “segura a raiva. A esquina é logo ali”. Tem o carinho da filha – “te adoro, pai.” Da sobrinha: “te gosto, tio”. Da mana: “cuidado, irmão”.
As mulheres, as que realmente importam, não têm ódio ou rancor dos homens, muito menos instinto de competição.
De minha parte, sou um fraco, “dependente da força da mulher”, como na música do Erasmo. Mas não tenho do que me queixar: até hoje sou amado, acarinhado e, quando me sinto fraco, consolado de um jeito que me faz crer ser um super bacana. Até chego a acreditar que nasci pra ser o super bacana – mentira que só uma mulher é capaz de fazer soar verdadeira. Nada no bolso ou nas mãos. Mas muito amor e tesão no coração.
A elas, no seu dia, a minha homenagem.
Faço meus os versos de Gilberto Gil: “Eu passei muito tempo pra saber que a mulher que amo e que amarei será sempre a mulher como é minha mãe”.

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