Trivialmente
O Carnaval, a Cerveja e o Teatro de RevistaVerão combina com cerveja que não combina com barriga de tanquinho. Mas como não sou escravo da moda, nem de suas dietas impossíveis, prefiro ostentar meus pneuzinhos e ser feliz com o que tenho. Felizes foram nossos pais que não precisavam se preocupar com essas questões menores e tiveram o prazer de admirar e desejar as vedetes do Teatro de Revista, também conhecido como Teatro de Rebolado, bastante populares em meados do século passado. Os mais novos não devem saber, mas muitas das atrizes hoje (re) conhecidas pelo seu trabalho em televisão e teatro começaram lá, encantando nossos pais com corpos esculturais e bem mais cheinhos para os padrões atuais.
O Teatro de Revista, derivado dos ‘vaudevilles’ parisienses, surgiu ainda no século XIX. Eram pequenas peças, onde os personagens envolvidos em situações dúbias e equivocadas, desenvolviam seus traços cômicos à medida que a peça se desenrolava, sem grandes preocupações com o aspecto psicológico dos personagens. No Brasil, vindo de Portugal, esse tipo de representação cativou o público, transformando-se numa das mais espantosas manifestações culturais, com sua forma satírica acompanhada de música e dança durante as cenas.
Durante a Primeira Guerra Mundial, com o Brasil isolado do resto do mundo, a “revista” ganhou um formato tipicamente brasileiro, com a música disputando a mesma relevância que se dava ao texto. A partir da Segunda Guerra Mundial, as peças começam a afastar-se da crítica política e social, inspirando-se nas grandes produções da Broadway, dando lugar à sensualidade e à dança. Músicos que acabaram marcando a história da música brasileira, como Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Ary Barroso e Lamartine Babo, foram responsáveis pelo desenvolvimento musical do gênero.
Nessa época apareceram expoentes do teatro e depois do cinema, como Grande Otelo, Oscarito e Walter D’Ávila e começaram a surgir as grandes vedetes, reverenciadas e desejadas, que se destacavam por serem atrizes, bailarinas e cantoras. Envolvidas em muitas plumas e paetês, brilhavam nos palcos Dercy Gonçalves, Renata Fronzi, Virginia Lane, Mara Rubia e tantas outras. A grande dama do teatro brasileiro, Bibi Ferreira, surgiu nessa época, no Teatro de Revista.
Apesar de alguns nomes ainda tão conhecidos, os mais jovens praticamente desconhecem a importância desse momento nos palcos brasileiros e o legado que nos deixaram. Esta foi a mais expressiva forma teatral brasileira em todos os tempos e o desprezo com que tem sido tratada só pode ser puro preconceito. A representação popular do cotidiano das pessoas, a enorme comunicação com o público, a possibilidade de improvisações e o rótulo de ‘teatro comercial’ levou os intelectuais e críticos da época, que queriam comparar seus textos com os da grande dramaturgia dramática a desprezar o gênero, por preferirem o peso de Ibsen, Strindberg e outros monstros sagrados do teatro. O que eles não percebiam é que não tínhamos público para esses textos pesados, mas as pessoas buscavam melodramas e teatro musicado por espelharem a realidade, dando-lhes oportunidade de se reconhecerem na cena, sem maiores complicações.
A partir da década de 60, com as mudanças sociais aí iniciadas, além da imposição da televisão no costume dos brasileiros e de outros fatores como política (ditadura), finanças e a liberação e permissividade que assolou os logradouros públicos, o Teatro de Revista ou de Rebolado começou a sua derrocada, até cair no esquecimento.
Como herança direta desse gênero teatral, temos os desfiles das escolas de samba no carnaval, com seu caráter grandioso, a estrutura narrativa em forma de quadros (as alas), as alegorias (personificação lúdica de entidades fantasiosas), além da grande sensualidade dos corpos nus cobertos com plumas e paetês. Sendo assim, aproveitemos o carnaval que já bate às nossas portas, com a exuberância dos corpos expostos em seus carros alegóricos e vamos nos divertir a valer, com uma cervejinha bem gelada na mão. Quanto à barriguinha, que vá procurar sua turma!
E você? Prefere privar-se de certos prazeres em beneficio de um corpo “malhado”? Ou dá maior importância aos prazeres da vida?
.
.
0 comentários:
Postar um comentário