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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Trivialmente


Pensamentos soltos a respeito de mim mesmo.


Eu sou assim, meio inconseqüente, meio porra-louca, até mesmo um pouco avoado. Existem pessoas que não me conhecem pessoalmente, e acreditam que sou um jovem senhor na casa dos trinta, no máximo dos quarenta. Mas já comemorei meu cinqüentenário há alguns anos e sempre fui um homem sério em relação aos meus deveres, obrigações, amigos, etc.. O fato de viver com o sorriso aberto na cara e tentando levar tudo na brincadeira não me torna menos sério do que sou. Também sei amarrar a cara – se bem que ninguém acredita quando me vê assim e acabo sendo desarmado – falar a sério, chamar a atenção e dar bronca. Mas também aí ajo com seriedade e (sempre) com respeito à outra pessoa. Não chamo a atenção, nem dou nenhuma bronca na frente de terceiros. Ninguém merece ficar ouvindo aquela chatice na frente dos outros! E tento levar tudo numa conversa amena, mostrando os pontos que não estão de acordo com o esperado, dando sugestões de melhora e, enfim, o que mais puder para não constranger a outra pessoa. Já fui homem de terno, gravata e pasta executiva, gerenciando departamentos financeiros e de planejamento de grandes empresas multinacionais. E sempre fui querido pelos funcionários, em todos os escalões. É difícil manter uma postura digna quando nos relacionamos com pessoas e somos superiores hierárquicos de muita gente. Mas com meu jeito bonachão e bem humorado, sem esquecer – sempre em primeiríssimo lugar – o respeito que devemos a todas as outras pessoas, eu consegui. Quando chutei o pau da barraca, abandonei a vida de alto executivo e ingressei no comércio, com o meu “próprio negócio”, muitos dos meus antigos subordinados continuaram me procurando e mantivemos sempre um excelente relacionamento, já não mais como chefe e subordinado, mas como, se não amigos de verdade, pelo menos pessoas que se gostam e se respeitam. Há pouco mais de dois anos, fatores externos tiraram das minhas mãos – e dos meus ombros – a loja que teve seus dias de sucesso e esplendor. Lá também, durante os quase vinte anos de labuta, contei com o apoio e o respeito daqueles que trabalharam para mim. E foram essas pessoas que me ajudaram a passar pela pior fase, a sair dela e até mesmo a tomar decisões que dariam outra guinada em minha vida. Fiquei mais ou menos um ano curtindo o dolce far niente, até que, cansado de viver como aposentado, resolvi voltar ao batente. Não foi difícil conseguir um trabalho, e contei com a ajuda de pessoas do meu passado. Primeiro fui fazer o gerenciamento financeiro e de planejamento de um grande restaurante e casa noturna. Algo por trás dos bastidores, mas como sou de ação, em pouco tempo estava praticamente tocando a casa, pois o proprietário, ciente de que eu não deixaria a peteca cair, foi passando tudo para mim e quando percebi estava trabalhando das nove da manhã até três ou quatro da madrugada seguinte. Quando tomei consciência do que estava fazendo comigo mesmo, conversei com o “patrão” e parti para outro trabalho. Ele ainda tentou segurar-me, garantindo que ficaríamos apenas nas finanças e planejamento, mas eu sabia que não seria assim e, portanto, o melhor a fazer era partir para novo desafio. Foi quando fui parar na Galeria Aécio Sarti, onde me encontro no momento. Em menos de um mês, já havia me tornado o braço direito do artista, fui me envolvendo em tudo o que diz respeito não só à galeria, mas também a exposições fora de Paraty e hoje aquilo não funciona sem mim. Já estou percebendo os primeiros problemas; tenho viajado muito – pequenas viagens – por conta de preparar exposições, conversar com donos de galeria e outros assuntos relacionados. Meu horário, que tenho me forçado a cumprir rigorosamente, é das 10 da manhã às 4 da tarde. Mas muitas vezes me percebo ainda lá, às 5, às 6, às 7. O próprio Aécio me procura tanto, que muitas vezes acaba me atrapalhando. Até assuntos particulares dele tenho resolvido. Neste momento estou tentando dar uma recuada estratégica, para me colocar numa posição menos impactante. Posso continuar a preparar as exposições, viajar e contatar galerias, cuidar da administração e das finanças, mas preciso deixar que outras pessoas também façam algumas coisas. “Você é centralizador?” alguém pode perguntar. Não, não sou e deixo que cada qual faça sua parte. Mas sou “paizão” e, quando percebo, os outros estão mais ou menos esperando que eu tome a iniciativa, ou mesmo a decisão. E não é isso o que quero. Afinal, para fazer um trabalho bem feito, precisamos saber dividir as responsabilidades e também os resultados. Mas tudo isso mantendo o bom humor, a alegria de estar vivo e com saúde e disposição para o trabalho. E, principalmente, o respeito pelos que estão ao meu lado. E também pelos que não estão.

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