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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

EntreAspas

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Reinventando o cais


Voltei! Voltamos!
Depois de um longo tempo vendo esta página com o mesmo texto, a mesma música e as mesmas intenções, saio das aspas para inventar um novo cais.
Acho que deveria fazer uma lista de boas intenções. É de praxe começar o ano tomando novas resoluções, como diz nosso companheiro Jens. Mas como Drummond, sou gauche. Não consigo sequer pensar em algo para começar tal lista. Na verdade, estou tão feliz nos caminhos que escolhi que só quero segui-los cantarolando. E se por acaso tropeçar em alguma pedra, haverá sempre a opção de chutá-la, apesar do risco de engessar novamente o pé. Então, nada de boas intenções. Talvez precise mesmo é das más. Ando boazinha demais, normalzinha demais e preguiçosa demais.
E por falar em preguiça... ah, como é difícil romper o círculo preguiçoso dos últimos cinco dias – minhas férias tão sonhadas. Preguiça de pensar, de retomar a vida dita produtiva. Uma vontade insidiosa de pegar carona no rabo de um cometa ou me deixar levar por um barco sem vela em mar infinito. Não se assuste, meu leitor. Não amaluquei. Apenas estou a exercer o sagrado direito de espreguiçar letras e adormecer palavras, nos meus últimos momentos de umas férias que duraram pouco, mas foram intensas. Um luxo para quem não imaginava ter mais que 24 horas de descanso compulsório. As lembranças de sol, piscina, risos e chuva de champanhe (com direito a beijos roubados, olhos arregalados e a renascida certeza de que alguns amores não morrem jamais) são tão luxuriantes que quero gozar um pouco mais a imaginária vida de rainha.
Mas prometo: estou a acordar. O ano ainda é um bebê e bebês costumam engatinhar antes de nos fazer correr atrás deles. E este ano promete um sem-número de correrias. Embora não seja pessimista, não há como negar o que estamos vivendo. A Natureza em fúria cobra a ação predadora do homem nos colocando sob águas em profusão. A crise estadunidense espalha-se pelo mundo, abalando e colocando nuvens escuras sobre o berço esplêndido brasileiro. Nada que vá me fazer perder os sonhos. Nem você, eu desejo. Afinal, o grande desafio que se apresenta é ser feliz, apesar das adversidades. E seremos, se muito quisermos.
Estou com sono. São altas horas do primeiro domingo de 2009. Estou a acordar, mas agora preciso dormir para me encher de paciência e encarar o cotidiano sem poesia do mundo empresarial que balança à beira do meu abismo particular. Vou mandar este rascunho para minha editora. Ela que se vire e faça parecer que sou uma colunista interessante. Mas se você estiver lendo este parágrafo, é sinal de que ela me ama. Só quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas. E autorizar a publicação deste final de besteiras.

PS. Ela é capaz de ouvir e entender estrelas. Mas é também capaz de puxar orelha de colunista preguiçosa!


midi: cais - flavio venturini

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