Conversas de um velho safado
A malvada
- Ah, deixa...
- Claro que não, bagual!
- Só desta vez. Que mal tem?
- Nem desta, nem vez nenhuma. Não respeita seus leitores? O que eles irão pensar?
- Nada. O pessoal é compreensivo. Aliás, desde quando você se importa com o que os outros pensam?
- Não se trata de mim e sim de você. Não quero que seus leitores, em especial leitoras, fiquem decepcionados com uma possível falha sua.
- Que merda, eu tô de férias! Nas férias a gente faz este tipo de coisa. Não vai doer nada, porra!
- Calmaí, companheiro. Nada de merdas e porras. Acha que está na sua toca? Lá é que, às vezes, mais parece uma casa de tolerância.
- Casa de tolerância? Eu conheço como p....
- Psttt! Olha a boca!
- Tá legal. Então você não deixa mesmo?
- Quer saber? Tá começando a me exasperar! Para de reclamar e vamos logo com isso!
- Saco!
- Tem mais: é fazer e fazer bem, tá? Parceiro meu tem que ser competente e criativo!
***
O relato acima é a transcrição factual do diálogo que travei com a minha editora aqui no Palimpnóia. Ao contrário do que possam imaginar a leitora e o leitor mais apressadinhos, o que estava em discussão não era nenhuma proposta de conteúdo libidinoso, proibido para menores de idade, se é que ainda existe alguma coisa proibida para menores de 18 anos. Eu simplesmente estava pedindo, implorando para ser mais exato, para "déclarer forfait", que é apenas um modo sofisticado de dizer que estava querendo a sua anuência (anuência, reparem como estou chique) para não escrever a minha coluna. É verão, última semana de férias, estou sem inspiração, com preguiça (na verdade exausto em razão de excessos etílicos, gastronômicos e, hummm..., carnais, vamos dizer assim, em nome do bom gosto e da elegância). Mas ela, a minha editora, além de gostoduzulda é também conhecida como A Malvada, uma deusa implacável quando se trata do honrar compromissos no dia aprazado.
Argumentei que apesar de externamente parecer um bagual indestrutível, no fundo sou apenas um simples rapaz do campo, dotado de uma alma sensível, cujo corpo másculo e o intelecto privilegiado necessitam de alguns dias de repouso absoluto para retomar o seu pleno vigor. Ou seja, preciso tirar férias das férias.
Como sempre faço quando quero muito alguma coisa, esperneei, choraminguei, berrei, briguei, fiz chantagem, ameacei com as mais terríveis maldições, chamei a mãe, invoquei o nome do Senhor. Tudo em vão. A Malvada manteve-se irredutível, ameaçadora – "se a coluna não chegar...".
Resolvi não pagar para ver o que significavam as sinistras reticências. Assim, cá estou deixando gravado publicamente os infortúnios a que um simples camponês, com certo pendor para a escrita, é submetido por uma deusa bela que sabe ser adorável, mas também severa, tirana e inflexível. Certos homens só funcionam assim. É o meu caso.
- Claro que não, bagual!
- Só desta vez. Que mal tem?
- Nem desta, nem vez nenhuma. Não respeita seus leitores? O que eles irão pensar?
- Nada. O pessoal é compreensivo. Aliás, desde quando você se importa com o que os outros pensam?
- Não se trata de mim e sim de você. Não quero que seus leitores, em especial leitoras, fiquem decepcionados com uma possível falha sua.
- Que merda, eu tô de férias! Nas férias a gente faz este tipo de coisa. Não vai doer nada, porra!
- Calmaí, companheiro. Nada de merdas e porras. Acha que está na sua toca? Lá é que, às vezes, mais parece uma casa de tolerância.
- Casa de tolerância? Eu conheço como p....
- Psttt! Olha a boca!
- Tá legal. Então você não deixa mesmo?
- Quer saber? Tá começando a me exasperar! Para de reclamar e vamos logo com isso!
- Saco!
- Tem mais: é fazer e fazer bem, tá? Parceiro meu tem que ser competente e criativo!
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O relato acima é a transcrição factual do diálogo que travei com a minha editora aqui no Palimpnóia. Ao contrário do que possam imaginar a leitora e o leitor mais apressadinhos, o que estava em discussão não era nenhuma proposta de conteúdo libidinoso, proibido para menores de idade, se é que ainda existe alguma coisa proibida para menores de 18 anos. Eu simplesmente estava pedindo, implorando para ser mais exato, para "déclarer forfait", que é apenas um modo sofisticado de dizer que estava querendo a sua anuência (anuência, reparem como estou chique) para não escrever a minha coluna. É verão, última semana de férias, estou sem inspiração, com preguiça (na verdade exausto em razão de excessos etílicos, gastronômicos e, hummm..., carnais, vamos dizer assim, em nome do bom gosto e da elegância). Mas ela, a minha editora, além de gostoduzulda é também conhecida como A Malvada, uma deusa implacável quando se trata do honrar compromissos no dia aprazado.
Argumentei que apesar de externamente parecer um bagual indestrutível, no fundo sou apenas um simples rapaz do campo, dotado de uma alma sensível, cujo corpo másculo e o intelecto privilegiado necessitam de alguns dias de repouso absoluto para retomar o seu pleno vigor. Ou seja, preciso tirar férias das férias.
Como sempre faço quando quero muito alguma coisa, esperneei, choraminguei, berrei, briguei, fiz chantagem, ameacei com as mais terríveis maldições, chamei a mãe, invoquei o nome do Senhor. Tudo em vão. A Malvada manteve-se irredutível, ameaçadora – "se a coluna não chegar...".
Resolvi não pagar para ver o que significavam as sinistras reticências. Assim, cá estou deixando gravado publicamente os infortúnios a que um simples camponês, com certo pendor para a escrita, é submetido por uma deusa bela que sabe ser adorável, mas também severa, tirana e inflexível. Certos homens só funcionam assim. É o meu caso.
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