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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Falhas nas conexões cerebrais

O nome desta coluna explica-me. Sim, eu sou disléxica. Sempre tive dificuldades para ler e fazer interpretações de textos, isso porque me desconcentro com muita facilidade e acabo perdendo o fio da meada. Na escrita troco vez por outra a letra V pela F, B por D, e o inverso também acontece. Ah, troco também com muita freqüência a letra D pela P. A minha dislexia foi descoberta tarde, depois dos vintes anos.

Na escola, achavam que eu era dispersa, mas como tirava notas boas (às vezes eu colava, mas normalmente nas exatas) nunca suspeitaram dessa minha doença, até porque me corrijo muito.
Um belo dia, assisti a uma reportagem que falava sobre tal doença e me vi enquadrada em vários tópicos que a definem. Corri para obter informações sobre as tais falhas cerebrais e achei na internet uma lista imensa de pessoas famosas que são disléxicas. Querem só ver como tem gente bacana e que supera os obstáculos? São alguns deles: Lewis Carroll, Julius Caesar, Agatha Christie, Tom Cruise, Leonardo DaVinci, Charles Darwin, Walt Disney, Thomas A. Edison, Albert Eistein, Whoopo Goldberg, Michaelangelo, Pablo Picasso, Vicent VanGogh, Robin Williams.
Depois corri para um médico que, após alguns exames, diagnosticou um "grau intermediário ou médio" de dislexia. O que impressionou foi descoberta tardia. É, eu sou uma insistente. Mesmo na ignorância de tal doença, me corrigia, lia muito, pegava letras de músicas em inglês para decorar, não me dava por vencida. Se todo mundo conseguia, por que eu não conseguiria? O que eu tinha de diferente dos demais? Mas relutava em escrever. Apesar de gostar das letras, sentia dificuldades em passar algo concreto, coerente e com alguma linearidade. Saio com tema central com grande facilidade, a tal dispersão...

E para entenderem que isso não é frescura, vejam o que acontece com os disléxicos e que é realmente uma doença:

"As causas da dislexia são neurológicas e genéticas. A dislexia é herdade e, portanto, uma criança disléxica tem tia, ou avô, ou tio ou primo que também é disléxico. Diferentemente de outras pessoas que não sofrem de dislexia, disléxicos processam informações em uma área diferente de seu cérebro; não obstante, os cérebros de disléxicos são perfeitamente normais. A dislexia resulta de falhas nas conexões cerebrais (ou ruptura no circuito neural envolvido com a leitura/escrita) . Felizmente, existem tratamentos e se tratada nos primeiros anos de vida da criança, pode ser curada por completo." Fonte: Peanuts Collector Club

Muitas crianças são avaliadas de forma errônea. Raramente alguém desconfia de dislexia quando ela não se demonstra em grau elevado ou máximo. Por isso, se você tem filhos, planeja tê-los, trabalha com crianças, ou simplesmente preocupa-se com os pequenos que fazem parte da sua vida, do seu dia-a-dia, anotem os principais "sintomas genéricos" de averiguação desta doença:

-Desempenho inconstante;
-Demora na aquisição da leitura e da escrita;
-Lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas orais;
-Dificuldade com os sons das palavras e, consequentemente, com a soletração;
-Escrita incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas;
-Dificuldade para associar o som ao símbolo (fonema ao grafema);
-Dificuldade com rima (sons iguais no final das palavras) e aliterações (sons iguais no início das palavras);
-Discrepância entre realizações acadêmicas, as habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo;
-Dificuldade em organização seqüencial, por ex: as letras do alfabeto, os meses do ano, tabuada etc...;
-Dificuldade para organizar-se no tempo (antes, agora, depois) e no espaço (em cima, em baixo, direita, esquerda, leste, oeste...)
-Desconforto ao tomar notas e/ou relutância para escrever;
-Persistência no mesmo erro ortográfico, embora conte com ajuda profissional;
-Dificuldade de memorização;
-Desatenção e dispersão;
-Dificuldade para aprender língua estrangeira. O Inglês, por exemplo, possui fonemas e grafemas não utilizados em Português e é regido por sintaxe diferenciada. Isto já é suficiente para complicar a sua aprendizagem.

O que está aí em cima em negrito é onde, basicamente, me encaixo, ou seja: TODAS! Ou o médico errou no diagnóstico, colocando-me no nível intermediário, ou eu sei muito bem driblar minhas dificuldades! Apesar da chance de cura total, no meu caso, ser bem remota... Desistir? JAMAIS! Quando o trecho de um texto não é assimilado, o jeito é lê-lo, relê-lo até que o entenda.
Se, ao escrever, a palavra não sai, o jeito é substituí-la por outra.

Poucos dias atrás estava eu em uma palestra e tomava notas simples, palavras-chaves que pudessem me ajudar posteriormente a elaborar um relatório. Em dado momento o palestrante fala: tipificação. Imaginem! O infeliz estava querendo me derrubar só porque eu não ria das suas piadinhas infames! Doideira minha, claro. O moço nada sabia sobre mim e muito menos sobre minha dislexia. Bom, saiu tudo: tivipicação, tidificação, tipivicação, tidivicação, mas a porcaria da tal tipificação? Necas! O jeito foi encontrar um sinônimo (caracterização), ou perderia todo o resto da palestra!

1 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny

11/10/10 17:42
 
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