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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Foi mais ou menos assim

Amassando barro
No sexto dia da criação o homem foi modelado em barro de alta qualidade e posto a cozer num alto forno da Vale do Rio Doce. Esfriado, ainda no secador, ficou parecido com estátuas gregas, se bem que estas, no futuro, seriam esculpidas em mármore. Imóvel. frio, aspecto tenso, olhos baços mirando o ontem. O oleiro continuou, todos os animais que criara, andavam, voavam ou nadavam. Tinha um que rastejava, hummm! A modelagem teve por base um macaco, mas queria-o à sua imagem e semelhança. Não o cobriria de uma vasta pelagem. Enquanto a estátua esfriava olhou-se numa poça de água cristalina, por incrível que pareça, não conhecia seu rosto. Voltou animado, providenciou um orifício no rosto do modelo e fez um boca-a-buraco. Insuflou-lhe todo o ar de seus pulmões. Pronto, criaram-se todos os órgãos para cima e para baixo. Primeiro os lábios, nariz e boca; logo os pulmões aconteceram. Estes precisavam de artérias e veias, um coração, fígado e etc. Tudo bem! Estava feito. Achou que uma distinção deveria ser criada. Importou alguns chips, memórias e processadores em desuso do Paraguai e colocou-os dentro da cachola até então vazia - ainda hoje muitos permanecem anos e anos assim. Como os sistemas operacionais Windows ainda não tinham sido aperfeiçoados colocou o que havia à disposição, um DOS, Versão 01, sobra de uso em primatas mais modernos, como o chimpanzé. Penúltimo parafuso apertado, lhe deu um eletro-choque daqueles que se usam para ressuscitar defuntos recentíssimos e teria dito-lhe, falam por aí, em bom latim: Ecce Homo ( Eis o homem). O autor não conseguiu apurar que língua o ceramista murmurou já que não houve como grampear o dito no principinho do princípio, exatamente o momento Alpha dos hominidas. A única humanidade existente era a dos macacos, já periclitante, tanto que não foi à frente até hoje. Esse homem ele o chamou Adão, do hebráico e quer dizer homem de terra vermelha, a cor do barro, a tal matéria prima do tio distante.
Adão pôs-se de pé, respirou fundo, olhou para todos os lados e deu o primeiro passo: -Quem é você? -Mais respeito, sou seu senhor. –Mas não o seu feitor. -Sim, senhor, estou exultante, feliz por esta dádiva. A vida!. Jamais iria saber em que tipo de magazine ou supermercado iria achá-la, e se achasse, como comprar. Não tenho dinheiro, cheque especial ou cartão de crédito.
- Santa Ignorância! Adão, meu filho adotivo, você não irá precisar de nada disto. Antes, olhe à sua volta, veja os rios e lagos com peixes e outros animais aquáticos, o ar, este negócio, desculpa-me, este gás não venenoso que te mantém vivo. Nele abundam, com todo respeito, aves, morcegos e insetos voadores, todos para seu deleite. Este líquido, o leite, por exemplo, é fornecido pelos mamíferos que te bastarão. Estes animais, assim como répteis, quelônios e outros que andam no chão e nas árvores serão suas companhias para todos os folguedos que possas imaginar. Às árvores, arbustos, bromélias, ervas, capins e outras que serão reunidas em compêndios no futuro distante dei o nome de Paraíso... Repara, paradesha quer dizer em sânscrito, país supremo. E em avéstico, pairi-daeza (paradizo), é um jardim murado. Isto está na Wikipédia; mais tarde irá conhecê-la depois de criada a internet. Este jardim ou Éden, do acádico edinu significa “campo aberto”. –Humm, seus descendentes farão muita confusão, uma babel. É todo seu e nele nada precisará ser plantado e cultivado, as sementes serão espalhadas por todos que delas comerem as fruta ou os frutos. O vento, a chuva e o sol, serão os agricultores.
-Ide e aproveitai do que melhor existe em seu derredor.
E saiu Adão encantando-se com o que ouvia, roncos e sibilos, cacarejos e chilreios, balidos e trinados. . A natureza o saudava. Tanta maravilha inundando seus sensores ópticos e óticos. E andou e andou, e muito. Nas andanças viu que animais corriam atrás uns dos outros. Depois paravam, e com alegria, um subia em cima do outro, sacolejava o corpo e descia. Logo se separavam. Um certo dia viu um casal de chimpanzé se atracando. Pensou que era briga. Chegou mais perto. O casal não deu a mínima. Fizeram caretas para ele. Chegou mais perto. Excitou-se e disse: - Quero brincar também! Levou um catiripapo e saiu catando coquinhos pelo chão. Pensou em reclamar com o homem do barro, mas ficou com vergonha. Ainda estava em riste. Inconsolável deitou-se e adormeceu, muito triste. Não teve sonhos, não havia o que sonhar. Viu-se composto ao acordar. Demência? Ficou vai, não vai, vai, durante meio dia. Foi pedir clemência.
-Senhor, estou sentindo-me só, o mais desolado dos homens, não estou lhe criticando, mas me vejo cotó (preterido no amor). Todos têm um parceiro para fazer aquilo de subir em cima, de balançar, sacudir, quero um meeiro, o senhor sabe... faz um para mim também?
- Paciência senhor! Adão, vou fazer sim, não pode ser igual; você tem um balancim e seu par será uma criatura com alguma diferença que terá um “rachadim”.
-O senhor quer me enganar? Ta falando mineirim... Ah, não, eu gosto é de mim, faz nele esta trombinha que sobe e desce. Pois eu gosto quando cresce, se tiver diferenças não quero levar bombinha, blá, blá, blá ...
O padrasto perde a paciência e deixando de lado a ciência, imitando um futuro Rei diz:
-POR QUÉ NO TE CALLAS? MASCA ESTA FOLHA AQUI! E TRATE DE DORMIR!
Dácio Jaegger

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