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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Conversas de um velho safado


Memórias indecentes: 1970


Na sala de aula
Jens:
- Fêssora, qual é o osso do pênis?
(Risos abafados. Murmúrios entre os meus comandados: “nosso grande, genial e amado líder é foda. Fodão.”)
Professora de Ciências, a coxoduzulda da Ana Maria:
- O pênis não é um osso. É um músculo, seu tonto.
(Decepção entre as tropas. Início de rebelião: “pô, cara, como tu é burro”).
Jens foi obrigado a impor respeito para não perder a liderança:
- Te pego na saída. Me espera na pracinha, seu viado!
- Ô chefe, desculpa. Foi mal.
- Tá bom, na próxima, já sabe...

***
Na pracinha perto de casa, depois de fumar o primeiro cigarro (Continental).
Jens:
- Porra, este troço é bom.
Kiko, o segundo em comando na hierarquia da gangue:
- É, mas deixa a gente tonto.
Jens, cambaleando:
- Legal deve ser fumar deitado. Assim a gente não corre o risco de cair.

***
Em casa, no banheiro.
A mana, do lado de fora:
- Sai daí. O que tu tá fazendo?
Jens, com a mão no, ou melhor, na “massa”:
- Hum, hã... nada! Não enche o saco.
A mana, abusada:
- Tá sim, o que é isto na tua mão?
Jens, assustado, encerrando atabalhoadamente os trabalhos, berrando feito uma mulherzinha:
- Manhê ela tá me espiando!
Mãe, de saco cheio:
- Rosa Maria, deixa teu irmão em paz. Jens, meu filho, sai logo deste banheiro.
Pensamento do Jens: “porra, sou um chefe de gangue. Mereço mais respeito. Vou falar pro pai.”
Registro histórico: Jens não se queixou ao seu progenitor. Seu instinto de sobrevivência lhe confidenciou que não era uma boa idéia.

***
Em casa.
Rosa Maria, a mana sacana.
- Manhê, olha aqui o que eu achei nas coisas dele.
Era uma das obras do imortal Carlos Zéfiro, com que fui presenteado por um dos meus fiéis discípulos.
Jens chiou, choramingando como o mano mais novo que era. A mãe não podia ver aquela coisa. Muito menos contar para o pai.
- Manhê, ela tá mexendo na minha gaveta. Aliás, isto não é meu. Nem sei o que é.
A mãe, que já sabia do que se tratava (que filho pode esconder alguma coisa da mãe?) se fez de sonsa:
- Deixa teu irmão sossegado.
- Mas mãe...
- Já falei, assunto encerrado. Devolve pra ele.
Jens, aliviado:
- Brigado, manhê. Não fala pro pai.
Mãe, sorrindo:
- Claro que não, meu filho. Tudo bem.
Contou, é claro. Mas o pai também sabia se fazer de sonso.
A mana devolveu. Dois dias depois.

***
No banheiro da praça da Tristeza, em frente ao Ginásio Padre Reus, depois de ler uma lição do catecismo do mestre Carlos Zéfiro.
Magrão:
- Porra, Jens que troço grande. Eu, se fosse mulher, não dava pra ti.
Rogério, embarcando no ônibus lotado e sentando na janelinha:
- Dá pra mim, Magrão. Só ponho a cabecinha.
Gargalhadas gerais.
Pensamento do Magrão: “porra, como eu sou tapado”.

***
1.Observação historicamente relevante: com a autorização de Jens, a constatação do Magrão espalhou-se pelo pátio, salas de aulas e banheiros do Ginásio Estadual Padre Reus. Assim, consolidou-se a sua fama de bagual, um legítimo herdeiro da raça dos centauros dos pampas. As garotas o olhavam com curiosidade e cobiça. Os machos, inclusive os mais velhos, com inveja. Ele e Godofredo, o colosso de ébano (o “troço”), tentaram manter a humildade. Não conseguiram, é claro.
2. Informação aos futuros biógrafos do Jens: a palavra usada pelo Magrão não foi “troço”. Foi aquela que começa com p, termina com u e tem um a no meio. Só não a reproduzi porque este é espaço um elegante, freqüentado por pessoas de linguajar requintado. E também porque as minhas editoras me mandaram ser educado, sob pena de não receber a minha cesta básica no final do mês. Sou um sujeito obediente.

midi: garotos - Leoni

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