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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Conversas de um velho safado

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Elas e eu



- Que tipo de mulher tu gostaria de ser?
Não lembro quem fez a pergunta, mas foi a muito tempo, no final da década de 70, quando eu trabalhava como escriturário no térreo da agência central do Banrisul, no guichê 11, e era encarregado de devolver e encerrar as contas dos emitentes de cheques sem fundos (sádico, adorava aquela tarefa, principalmente quando me deparava com um caloteiro graúdo). Bons tempos aqueles. Os bancos ainda eram um mercado farto para o trabalho de seres humanos. Só no meu setor - conta corrente - éramos um bando de 20 gurias e guris, comandados por dois chefes camaradas. Em todo o andar eram mais de 100. Os computadores eram apenas uma miragem ameaçadora num horizonte distante. Hoje o local é um cemitério refrigerado. A tecnologia venceu.
Mas estou tergiversando, voltemos à pergunta inicial.
O primeiro a responder foi o João.
- Eu seria uma mulher elegante e sensual.
Fazia sentido. Ele era um dândi.
O Rollim, um dos chefes, tímido, riu.
- Vocês inventam cada uma...
Organizado e ansioso, ele seria uma dona de casa exemplar.
O Poti, meu chefe direto, visivelmente gay, pulou fora.
- Deus me livre! Nem penso em ser uma rachada (sorry, ladies, era assim que alguns falavam naquela época).
Excitado, me preparei para responder:
- Eu seria uma...
- Nem fala! A gente já sabe. Vamos trabalhar.
Quem interrompeu foi o Rollim, pressentindo a sacanagem que estava prestes a pular da minha boca (a safadeza não foi uma qualidade que adquiri com a maturidade; é um atributo que cultivo desde a mais tenra idade).
Bem, nesta minha colaboração inaugural para o Palimpnóia, considerei oportuno voltar ao assunto. Vamos lá.
Em primeiro lugar, seria uma mulher gostosa. Gostoduzulda: seios atrevidos, coxas roliças, traseiro arrebitado, enfim, um tesãozinho. E elegante também, nada a ver com o estilo hortifrutigranjeiro atualmente em voga. Seria uma dama digna de ser reverenciada com um jantar de 400 talheres.
Isto posto, a primeira coisa que faria não seria aquilo que vocês estão pensando.
Eu iria imediatamente para o banheiro feminino de uma grande empresa, na hora depois do almoço. Sempre quis saber o que as mulheres falam no toalete (hummm, estou chique hoje). Quando trabalhava no Banrisul, minha mesa ficava próxima do banheiro feminino. Elas entravam lá em bando e ficavam horas. O que faziam, ou melhor, fazem as mulheres no banheiro? Na minha imaginação fértil, conversam sobre homens, experiências amorosas, comparam suas qualidades físicas e, descontraidamente, ajeitam a cinta-liga (vamos fazer de conta que a meia-calça não existe). Quero entrar para a turma.
A segunda coisa seria engravidar, só para saber qual a sensação de ter uma barriga enorme, exuberante de vida, e poder dizer às amigas “ai que dor nos quartos”, além de ser alvo da gentileza de cavalheiros educados, que me cederiam o lugar em um ônibus lotado (presumo que ainda existam homens deste naipe). Dispensaria as dores do parto. Aliás, suspeito que se a perpetuação da espécie humana dependesse de gravidez e parto masculino, os animais irracionais seriam os donos do planeta a muito tempo. Ou então, a cesariana teria sido desenvolvida desde os primórdios da humanidade. A maioria de nós, homens, não têm estrutura para aguentar uma unha encravada, o que dirá a dor de um parto natural.
Claro que neste entremeio faria – e muito – aquilo que vocês estão pensando que eu gostaria de fazer.
Eu seria bonitinha, mas peralta. Uma garota da fuzarca.

Jens

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