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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Falhas nas conexões cerebrais

A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos. (...) na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio. (...)não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego
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Cinema, Literatura, Teatro, Dança, Fotografia, Música, Escultura e Pintura, Artesanato, Arquitetura, há bem mais do que as sete artes relacionadas no Manifesto de 1911. Não há Arte menor, pelo menos para mim. Há maior afinidade com essa ou com aquela. Eu, por exemplo, tenho maior afinidade com Cinema, Música, Fotografia e Literatura (claro!). A Pintura, definitivamente, não consigo entender. Até hoje não saquei o sorriso da Mona, é abstrato demais para mim.
Sempre achei bacanérrimo quem tinha os dotes manuais desenvolvidos, fosse na firmeza da mão para capturar uma boa imagem ou fazer um traço, fosse em uma letra bonita, fosse na criatividade ao moldar argila.
Morro de inveja (branca! Inveja branca!) das pessoas que fazem crochê, bordam, pintam panos de prato, fazem biscuit, tapetes. Mas nunca cismei de fazer nada desse tipo. Até que um belo dia...
Bom, eu sofro de insônia e há dias que de noite não tenho saco ou concentração para nada. Nem para TV, nem para livros, nem para filmes, nem para msn ou net em geral. Tudo fica sem graça, nada prende a minha atenção ou distrai a minha cabeça. E eu preciso me ocupar para atravessar as madrugadas.
No final do ano passado eu estava de bobeira e de férias da faculdade, havia conversado com pessoas que fazem Artesanato, quando, em uma noite de clarão, me veio a idéia de tentar fazer algo, já que todos diziam ser uma forma de esquecer de tudo, de relaxar. Mesmo não possuindo nenhuma destreza motora, no dia seguinte comprei uma dessas revistas que ensina passo-a-passo como pintar caixinhas de MDF. Comprei tintas nas cores primárias, lixas, pincéis, verniz e, óbvio, caixinhas de madeira. Fiz a festa na 25 de Março!
E não é que deu certo?! Virei-me bem com as danadas! Sem contar que realmente fiquei sentadinha por duas ou três horas noturnas, lixando, conjecturando as combinações das cores e sem pensar em nada muito complicado! Resultado: fui dormir leve como uma pluma. O problema surgiu alguns dias (ou noites) depois: o que fazer com tantas caixinhas espalhadas pela casa? Como não pensava em vendê-las (tenho – algum – bom senso), sai presenteando alguns familiares (mãe, irmã, avó), pois sabia que não ririam das minhas estripulias. Após alguns elogios, aventurei-me e presenteei amigos queridos. Não sou uma artista, estou bem longe disso, mas sinto como se um pedacinho de mim estivesse em cada caixinha. Tem um pedacinho de amor, um pedacinho de dedicação, um pedacinho de carinho e um pedação de tempo.
Dia desses, para uma amiga queridérrima lá do escritório onde trabalho, fiz um risque-rabisque da Beti Boop. Uma outra moça o viu e fez uma encomenda de 50 caixinhas de lembrancinhas para o aniversário de 15 anos da sua filha. Aceitei. Não vou ganhar praticamente nada fazendo-as, será bem mais pela distração, porque se eu fosse calcular o gasto com o material e o meu tempo, era bem provável que a aniversariante ficaria sem as minhas caixinhas. Foi daí que pensei: Porque será que há trabalhos mais valorizados e outros nem tanto? Porque será que são poucos, pouquíssimos, que conseguem viver da Arte nesse mundo? Talvez a resposta esteja no sorriso da Monalisa...
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