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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Aline Belle: A arte de dar informações



Há cidades Maravilhosas, mas, às vezes, para um turista descobrir isso não é nada fácil.
Viajei para uma cidade turística e ao descer do avião, naquela sexta-feira de tarde ensolarada e quente, peguei minha malinha, saí pelo portão de desembarque, olhei para esquerda depois para a direita, sem saber para qual lado ir. Primeira providência: descobrir onde ficava o local em que me hospedaria. Por sorte, encontrei o balcão de informações. Quer dizer, ‘sorte’ é eufemismo.
- Por favor, onde fica o lugar tal?
A funcionária da Infraero, que escrevendo estava escrevendo continuou, respondeu:
- Você vai aqui, sobe a passarela, depois da OAB vira e tá lá.
- Eerr... Ok, obrigada.
Claro que eu não estava saindo com mais informações do que já tinha quando cheguei, ou seja: nenhuma.
Quando se está em um lugar desconhecido, nada mais natural do que pedir informações. E nada mais natural que o solicitado tenha em mente que o solicitante não tem nem ideia de onde fica a passarela, tão pouco a OAB e muito menos o lá quando o aqui, naquela ocasião, não se parece com lugar algum.
Consegui chegar ao local, mas não sem antes pedir informação ao tio da banca de jornal. Duas pessoas para indicar um trajeto que, com mais referências, era: ao sair do aeroporto atravessar a rua usando a passarela, que desemboca no prédio da AOB, seguir reto, virar à esquerda na primeira esquina e caminhar até o final da rua, que não é longa. Não, eu não queria que alguém pegasse na minha mão e me levasse até o hotel. Eu só queria ficar mais calma, segura e com aquela sensação de familiaridade.
Em alguns casos a explicação oral vinha acompanhada da gestual. Como quando decidi ir para a night da cidade e fui buscar auxílio no tio da pipoca. Começou a falar com o jeito de “Ah! Você perguntou para a pessoa certa!”, o que me animou muito. Até que ele se pôs a movimentar braços e mãos, e me lembrei que estava falando com uma pessoa natural daquela terra e que como tal, era cheia de malemolência e gingado. As palavras dançavam na melodia de sua voz; mãos e braços em volteios descontrolados pelo ar. Quase fiquei zonza. Agradeci rapidinho e fui em frente, com medo que ele se lembrasse de algum dado a acrescentar.
Estou eu, no dia seguinte, sábado, querendo sair de uma das praias dessa cidade e voltar para o hotel usando o metrô, pergunto para uma moça:
- Como faço pra chegar ao metrô, por favor?
- Você segue aqui para chegar à Sá Ferreira. Sabe onde fica a Sá Ferreira, não sabe?
- Não.
- Então, pega a Sá Ferreira, vira a direita, depois à esquerda, tá lá.
Já estava quase andando em círculo quando outro tio de outra banca de jornal me salvou.
Acredito que por causa de algum mecanismo de defesa e proteção, fiz minhas últimas refeições pelas redondezas do hotel.
Regressando para São Paulo, ao descer do avião, naquele domingo cinzento e frio, precisava descobrir se havia ônibus do aeroporto para a rodoviária. Dirigi-me ao balcão de informações.
- Por favor - a atendente levantou a cabeça, me olhou -, há cia. de ônibus aqui que vai para a rodoviária Tietê?
- Saí do saguão (indicou a direção da porta) e vira a esquerda (sinalizou firmemente – apenas - para a esquerda). Terceira loja, Cia Pássaro Marrom.
Não, a moça não teve de pegar na minha mão e me levar até o local, apenas foi objetiva o suficiente para que eu encontrasse, sem problemas, a empresa de ônibus.
No final das contas, concluo: para aquele que chega, encontrar pessoas que dominem a Arte de dar informações é o que o faz sentir-se em casa. Por outro lado, não há o desbravar de uma cidade – e aí está toda a graça em fazer turismo - sem se perder.

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